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Coluna 129: Pingos de história do Império Brasileiro (16) - A revolução nas comunicações e o desfecho da Questão Religiosa

Publicada dia 19 de Abril de 2008

Pingos de história do Império Brasileiro (16) - A revolução nas comunicações e o desfecho da Questão Religiosa

No ano de 1874, iniciou-se, no Brasil, uma revolução nas comunicações. Dessa forma, com a inauguração do telégrafo, o Diário de Pernambuco, sempre na vanguarda das novidades da época, passou a receber telegramas da Corte e das províncias do Rio de Janeiro, Bahia, Pará e da Europa. Anos antes, as notícias só chegavam ao Recife através de navios. Um navio que partisse do Norte com escala nos diversos portos até a capital da nossa província, trazia jornais de Manaus com quinze dias de atraso, de Belém, com dez dias, de São Luis com oito dias e de Fortaleza com quatro. Se já era difícil uma notícia chegar a uma capital servida por um porto marítimo, imagine-se o drama das populações dos sertões do Brasil. É evidente que a implantação do telégrafo elétrico se deu paulatinamente, em face dos grandes investimentos, de modo que a notícia da proclamação da república brasileira, em novembro de 1889, levou quarenta e tantos dias para chegar ao conhecimento dos moradores da capital do Amazonas, ou seja, o amazonense só tomou conhecimento de que éramos uma República nos primeiros dias de janeiro de 1890. Portanto, era muito precário o problema das comunicações naqueles tempos.

Uma prova concreta disso foi a declaração de guerra do Paraguai ao Brasil, em dezembro de 1864 e a invasão da província de Mato Grosso pelas tropas paraguaias que nosso governo só tomou conhecimento tardiamente. Às pressas e improvisando, o governo do Império determinou que um contingente partisse de Minas Gerais, com 2.780 homens, e se dirigisse ao Mato Grosso, distante cerca de dois mil quilômetros e sem estradas, para rechaçar os invasores. Essa tropa só chegou ao teatro de operações no final de 1865 e com grandes baixas durante a longa jornada pelo pantanal, com a febre desmoralizando os nossos soldados.

Em outra frente, o Brasil e seus aliados tentavam desbloquear o Rio Paraná com a nossa marinha imperial, que contou com a ajuda das marinhas co-irmãs, argentina e uruguaia. Travou-se, na oportunidade, a célebre batalha naval de Riachuelo, em 11 de junho de 1865, onde os comandados do almirante Barroso lograram pleno êxito, depois de acirrados bombardeios que fizeram os paraguaios recuarem para a própria capital, Assunção. Se na época existissem comunicações via telégrafo, nossas tropas saídas das Minas Gerais poderiam ter chegado ao local de conflito, sem grandes sacrifícios, usando o rio Paraguai, a bordo dos navios da Tríplice Aliança e sem grandes perdas de vidas humanas e de animais.

Na verdade, a rede de comunicação através de cabos submarinos havia entrado em operação em janeiro de 1874. No entanto, entre esta data e o início de julho, o Diário de Pernambuco esteve em negociação para o recebimento de notícias por duas agências, a "Americana", encarregada do material nacional, e a "Havas", para assuntos estrangeiros, especialmente dos Estados Unidos e Europa.

Em 1874, continuou repercutindo na imprensa a chamada "Questão Religiosa". Assim, com a ordem de prisão decretada desde dezembro de 1873, o bispo de Olinda, Dom Frei Vital, foi recolhido e levado ao Arsenal de Marinha no dia dois de janeiro. Quem efetuou a prisão do prelado foi o chefe de polícia de Pernambuco, Antônio Francisco Correia de Araújo. No dia cinco, o ilustre prisioneiro foi colocado, sob escolta policial, a bordo da corveta "Recife" e transportado para o Rio de Janeiro. No dia 15, começa o julgamento pelo Supremo Tribunal de Justiça. O julgamento terminou no dia 21 e Dom Vital foi condenado a quatro anos de prisão com trabalho, grau médio, de conformidade com o que prescrevia o artigo 96 do Código Criminal do Império. No entanto, a defesa entrou com recurso e conseguiu convencer o tribunal, em 12 de março, a comutar a pena para quatro anos de prisão simples. Nesse mesmo julgamento, pena de igual valor foi aplicada a Dom Antônio de Macedo Costa, bispo do Pará.

No dia 9 de fevereiro de 1874, o tradicional órgão da imprensa pernambucana publica um editorial a respeito da rumorosa "Questão Religiosa", o qual, em síntese, diz o seguinte em defesa da Maçonaria: "Sem entrar no exame dessa instituição condenada pela Igreja, é forçoso dizer que no Brasil nunca se mostrou ela hostil à religião e incursa nos motivos que determinaram a sua condenação. Este é um fato que está na consciência de todos que conhecem o que é no Brasil esta associação, à qual tem pertencido varões notáveis por suas virtudes e sentimentos de piedade".

A Sé romana, através do papa Pio IX, protestou veementemente, junto ao governo brasileiro, contra a condenação dos bispos no Brasil e a "Questão Religiosa" tornou-se assunto da imprensa estrangeira. Este repercussão internacional fez com que o imperador Pedro II anistiasse os prelados. Como já vimos no ensaio anterior, Dom Vital voltou a Pernambuco, praticamente para se despedir da diocese de Olinda. Desgostoso com tudo que passou, mas sempre firme nos seus posicionamentos e interpretações doutrinárias, viajou para a França para não voltar ao Brasil com vida. Morreu tempos depois muito jovem, com pouco mais de 40 anos. Em 1882, com a inauguração da igreja da Penha, no bairro recifense de São José, seus despojos foram enterrados em lugar nobre do templo.E a praça em frente ao Mercado de São José passou a ostentar o nome de Dom Vital.

Neste caso, podemos dizer que Dom Vital de Oliveira e Dom Macedo Costa ao enfrentaram a poderosa maçonaria praticamente selaram suas carreiras de altos dignitários da Igreja, que segundo a Constituição de 1824 era a religião oficial do estado brasileiro. Naqueles tempos, toda a chamada aristocracia rural e urbana fazia parte dessa sociedade secreta, de modo que qualquer questão contra ela tinha desfecho desfavorável a quem não pertencesse à Maçonaria.

Ser maçom era moda, dava prestígio e abria caminho nas esferas de poder da nossa sociedade de então.

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(Prosseguiremos, na próxima semana, com os anos de 1875 e 1876)

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Pau Amarelo PE 19 de abril de 2008

Orlando Calado é bacharel em direito.

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