Revendo, uma vez mais, a velha coleção da "Gazeta de S. Bento", depositada no Arquivo Público do Estado de Pernambuco, este escrevinhador constatou que ela está em péssimo estado de conservação, notadamente os exemplares iniciais. Lá estão as dezoito primeiras edições desse bem redigido jornalzinho. Também, examinamos detidamente o último exemplar disponível para ver qual era o estado de ânimo dos seus redatores e em nenhum lugar constatamos a intenção de fazer parar a sua publicação. Pelo contrário, havia um apelo às pessoa que recebessem o jornalzinho e não o devolveram no sentido de remeter a importância relativa à assinatura.
Como já dissemos em ensaio anterior, o jornalzinho tinha tudo para dar certo, pois que era possuidor de sua própria tipografia, bem diferente de hoje onde os jornais e boletins são-bentenses são impressos em gráficas de outras cidades, entre elas na vizinha cidade de Lajedo. Além de tudo, a Gazeta tinha como redatores as cabeças mais bem preparadas do município, residentes na cidade, a maioria das quais bacharéis em direito, que exerciam cargos de juiz de direito da comarca, juiz municipal, promotor e de adjunto de promotor, isto sem falar da figura do professor de instrução pública e do vigário.
É bem provável que em arquivos de outros jornais ainda em circulação, no Recife, haja exemplares da Gazeta. Naquele tempo, era comum os pequenos jornais do interior e mesmo de bairros da capital enviar um exemplar de cada edição aos grandes veículos. As dezoito edições encontradas no Arquivo Público foram destinadas ao extinto "Jornal Pequeno". Ainda bem que este jornal ao encerrar suas atividades remeteu seus arquivos para a guarda de um órgão público. Então, é de se agradecer o descortino dos proprietários do "Jornal Pequeno" do Recife que poderiam de ter dado um outro destino menos nobre, ou seja, o lixo. No entanto, num gesto de grandeza, preservaram as dezoito edições da "Gazeta de S. Bento" e com isso pudemos tomar do que se passava na nova cidade naqueles tempos distantes.
A iluminação pública de S. Bento foi inaugurada em 12 de outubro de 1899 em meio a grande regozijo, discursos, foguetões e aplausos dos moradores. A filarmônica são-bentenses, à tardinha, à luz dos possantes lampiões, desfilou, garbosa, pelas poucas ruas do centro da vila sendo aplaudida pelo povo reunido na Rua do Comércio. Mais tarde, o jornalista Gonçalves Maia, de "A Província", visitando várias cidades do interior, elogiou não só a iluminação de S. Bento como também a limpeza das ruas, a igreja-matriz e as casas impecavelmente caiadas.
A Gazeta de S. Bento, de 15/12/1900, noticiou a despedida do comerciante Rodolfo Monteiro Paiva. Ele retornava ao Recife depois de vinte anos de trabalho na cidade. Daí, chegarmos à conclusão de que Rodolfo Paiva chegou à nossa cidade por volta de 1880. Seu filho Adalberto, nascido em 1885, assim como seu irmão Virgílio (Nô), o primeiro com quinze anos, devem ter ficado à frente do estabelecimento, pois que documento público de 1914 informava da existência da firma "Rodolfo Paiva & Filhos", que era fornecedor, também, de medicamentos. É bem provável que Rodolfo Paiva tenha voltado a morar em S. Bento, pois do contrário não teria aberto a "Padaria Sertaneja", fundada em 1907. Em sua homenagem, o mestre da filarmônica são-bentense Liberato Augusto de Siqueira compôs um dobrado que deu o nome de "Rodolfo Paiva". Não sabemos se a partitura dessa peça musical tenha chegado aos nossos dias, o que é uma pena.
Igualmente, vimos o orçamento municipal para o ano de 1901, com despesa superior a dez contos de réis, assinado pelos membros do Conselho Municipal e estranhamos que dos quatro novos conselheiros eleitos em 1900, em virtude do aumento da representação em face de a vila ter passado à condição de cidade, apenas o conselheiro Francisco de Almeida Calado não assinou o documento. Depois verificamos que os quatro novos vereadores só tomariam posse em 1901 e o orçamento municipal para o ano de 1901 foi assinado em 31/12/1900.
Em outra edição de 1901, lê-se a notícia da reforma do próprio estadual de dois pavimentos ao lado da Casa Paroquial. Por orientação do juiz de direito Eduardo Correia da Silva, ficou estabelecido que o pavimento térreo serviria de cadeia, com higiênicas acomodações para os presos e no pavimento superior a sala de audiências da Comarca e local para o funcionamento do Tribunal do Júri. Este que vos escreve, quando menino, ainda alcançou a cadeia funcionando no local, com Zé Cataco (José Augusto de Siqueira), o carcereiro, nas horas de folga, tomando umas e outras e batendo umas contra as outras enormes chaves das fechaduras do tempo antigo. No final da década de 50 ou princípio da de 60, dos anos 1900, no local funcionou um "Centro Educacional Agamenon Magalhães" e na atualidade o térreo é ocupado por um salão de bilhar e sinucas. Essa relíquia deve ser preservada, pois que contém um pouquinho da história são-bentense do século XX.
Edital do juiz-presidente do Tribunal do Júri, publicado na Gazeta de S. Bento de 25/03/1901, convocava os cidadãos abaixo, por terem sido sorteados para a primeira sessão do júri a ser realizada em 08/04/1901. Para que os nomes desses cidadãos não se percam na poeira do tempo, prestamos a ele um tributo de reconhecimento pelo desempenho da nobre tarefa de jurado nos crimes de mortes e suas tentativas:
1) Antônio Presciliano Chaves, da cidade; 2) Antônio Justo de Figueiredo; 3) Bento Correia Crespo, cidade. 4) Coriolano de Paiva e Melo, cidade; 5) Antônio Gonçalves Tristão, cidade; 6) Luiz Nuns de Castro, cidade; 7) Rodolfo Jovino de Santana, cidade; 8) Luiz Francisco Teixeira, Cachoeirinha; 9) Ricardo Teixeira Cardim, Cachoeirinha; 10) Francisco Simão de Souza, Salgadinho; 11) João Alves Espíndola, Conceição; 12) Francisco Rodrigues Valença, Condado; 13) Apolinário da Silva Mendes, Primavera; 14) Guilherme Teixeira de Paula, Caldeirão; 15) José Inácio Carneiro, Retiro; 16) Severino Muniz de Melo, Caracol; 17) Luiz Salustiano dos Santos, Basílio; 18) Manoel Tavares de Lira, Una; 19) Joaquim Rodrigues de Melo, Salgado; 20) Juvenal Cordeiro Manso, Conceição; 21) Vicente Ferreira Vilela, Logrador; 22) Pedro Marques da Silva, Una; 23) José Rufino do Amaral, Caracol; 24) Manoel José dos Santos, Gameleira; 25) Antônio Epaminondas Valença, Baraúna; 26) Antônio Alves Espíndola, Conceição; 27) Aureliano Correia de Oliveira, Basílio; 28) Antônio José de Souza, Riachão; 29) Joaquim Gaudêncio de Carvalho, Rio das Voltas; 30) Henrique Rodrigues da Costa, Salgado; 31) João d´Almeida Valença, Imbé; 32) Caetano d´Oliveira Cintra, Recanto; 33) Joaquim Ferreira da Silva, Mumbuco; 34) Alípio Teixeira Caldas, Riachão; 35) Joaquim Vitalino de Melo, Baixa e 36) Manoel Joaquim d´Aguiar Ferrão, Riachão.
Assinavam o edital o escrivão interino do júri, João J. de Santana e juiz de direito da Comarca de S. Bento, Dr. Eduardo Correia da Silva. E para terminar, vamos transcrever um entre os vários anúncios que tomava toda a quarta e última página do jornalzinho que talvez tenha sido o pioneiro, mas que não podemos afiança de modo algum, pois no ano de 1882 havia em S. Bento um "Clube Literário, onde se promoviam as chamadas tertúlias que era o passatempo daquela gente naqueles sombrios tempos em que não havia energia elétrica, telefone, rádio e muito menos televisão. Então, a distração geralmente era a declamação de poesias, a representação de dramas e as serenatas em noite de luar. Bravos tempos aqueles, sendo até provável que o citado clube tenha editado um jornalzinho, mesmo de cunho estritamente literário.
Em resumo, ficamos sabendo coisas que de certo modo nos eram totalmente desconhecidas como o fato de a cadeia velha, enquanto próprio estadual, ter funcionado o fórum da cidade e a cadeia pública. De igual modo, tomamos conhecimento do ano em que o serviço de iluminação a querosene foi inaugurado, trazendo mais segurança aos munícipes e, por fim, o ano (1880) em que o Rodolfo Paiva chegou a S. Bento, vindo do Recife, para trabalhar com Jerônimo Tertuliano de Moraes e mais tarde (1907) fundar a Padaria Sertaneja, cujas bolachinhas foram premiados em exposição nacional.
Continuaremos a pesquisar um pouquinho da historia informal de nossa querida cidade S. Bento, lamentado as dificuldades inerentes em vista da falta de material a pesquisar.
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Notas:
1) Escreva, sem receio, para o autor através do e-mail [email protected], fazendo suas críticas, sugestões ou mesmo elogios. Tudo aqui é feito de graça. O objetivo maior é projetar nossa cidade com sua gente e suas tradições para o mundo inteiro.
2) O autor também possui um álbum fotográfico com várias dezenas de fotos recentes de S. Bento do Una. Para tanto, acesse e favorite o site: www.orlandocalado.flogbrasil.terra.com.br e se quiser copie as fotos desde que cite o crédito de "Orlando Calado" em caso de publicação. Na parte direita da tela, acima, aparecem as últimas fotos. Para ver outras basta clicar em cima da escolhida. Para ver mais fotos, clique em "Outras fotos". Ficaríamos contentes se o amigo ou amiga deixasse o seu comentário nas fotos vistas.
3) Por falta de revisor, este ensaio pode conter pequenos erros de concordância ou de outra natureza que posteriormente serão sanados.