Coluna 03 - O "União"
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Publicada dia 10 de Agosto de 2003
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O "União"
Quando o primeiro "União" iniciou suas atividades, eu era criança e, por conseguinte, proibido de frequentá-lo. Seu Sérgio, porteiro do clube, era inflexível no cumprimento dessa proibição. Somente os maiores de quatorze anos tinham acesso aos salões do recém fundado clube social, assim mesmo discretamente, pelos cantos, nos bastidores, "piruando" a orquestra e os casais dançantes. Quase nenhum adolescente se aventurava por iniciativa própria a rodopiar no salão. Os mais afoitos somente conseguiam cair na dança com a ajuda de alguém mais velho, o pai, a mãe ou algum amigo da família, a título de aprendizado, de iniciação à vida clubística.
Naquele casarão do largo da Matriz, ainda hoje existente, foram realizadas festas monumentais. A sociedade sãobentense já prestigiava as iniciativas das figuras importantes do lugar...
No principal salão do clube, decorado com centenas de bailarinas, pintadas por Getúlio Valença, fundados do clube, rodopiavam enlevados damas e cavalheiros, rapazes de cabeleiras luzidas e senhoritas trajadas à moda das "melindrosas" mostradas nas revistas da época.
Não havia mesas no salão de danças. As "damas" disponíveis, isto é, aquelas que se dispunham à dança, acomodavam-se nas cadeiras, ao longo do salão principal.
O fornecimento de bebidas era feito discretamente, pelo "bufê", um improvisado "bar" localizado nos fundos do prédio.
Cavalheiros "prenhes" de conhaques e cervejas, resolviam a "situação" nos escuros do imenso quintal do clube; damas e senhoritas igualmente lotadas de "gazoza" (refrigerante da época), aliviavam-se num gigantesco penico, estrategicamente posicionado por trás da cortina do "tualete" feminino. O referido, agigantado, e nunca assaz utilizado utensílio "mijatório", diziam, pertencera ao patriarca Rodolfo Paiva, bisavô de Alceu Valença.
Getúlio Valença, ao fundar o "União", tinha em mente o propósito de introduzir na comunidade o hábito de boa convivência social e do entretenimento, coisas praticamente inexistentes na nossa terra até então.
A iniciativa pioneira de Getúlio Valença foi um sucesso. De tal forma que, dezenas de associados ao clube, quase todos pecuaristas entusiasmados com o "prestígio" do empreendimento, solicitaram a interferência da diretoria junto aos cobradores de impostos do governo que, segundo eles, estariam exorbitando na taxação do queijo e da manteiga produzida em São Bento, o que, naturalmente não era atribuição do clube. "Clube social não é sindicato", reagiu assim a diretoria.
Mesmo sendo um sucesso, faltava ao clube pioneiro uma infra-estrutura mais sólida, um corpo social mais experiente, de nível. O encerramento das atividades do "União", foi, sem sombra de dúvida, civilizado e democrático, mas profundamente danoso aos jovens da época, tão carentes de sociabilizarão e diversão...
Alguns anos depois surge um novo "União", mais moderno, dessa vez, comprometido com o desporto. Chamar-se-ia "União Sport Club" e ocuparia o mesmo casarão do largo da Matriz.
Liderado pelo Dr. Adelmar Paiva, conceituado filho da terra, o novo "União" partiria, com a colaboração de todos os antigos sócios, para vôos mais audaciosos, inclusive construindo campo de futebol e, mais tarde, sede própria, esta financiada pelos próprios sócios, através de contribuições - chamar-se-iam, mais tarde, "socios-remidos". Nós os descendentes daquele pessoal, seríamos hoje os sócios patrimoniais do "União", não houvessem os registros, os "livros" da sociedade desaparecido sem deixar vestígios...
Após a gestão do Dr. Adelmar, assumiria o mano Adauto Paiva, cuja dedicação ao clube foi um marco na história do nosso saudoso "União".Realizador de grandes eventos, foi também o criador da nossa "emissora" de rádio, o inesquecível Serviço de Alto-falantes de São Bento do Una, de grande cobertura - toda a cidade - o entretenimento maior do Município à época.
Ao longo da história, o "União" conheceria administradores de todos os níveis: excelentes, boas, sofríveis, más. O "União" foi, com toda a certeza por muito tempo, o referencial da sociedade sãobentense.
A sede do "União" continua de pé. O imenso edifício, de tanto sofrer reformas estapafúrdias é, hoje, apenas um arremedo: disforme, descaracterizado e transgredido.
Já está na hora de alguém resgatar o velho "União", devolvendo-o a quem realmente pertence: à sociedade de São Bento do Una.
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