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Coluna 101: Fatos & gente são-bentenses de épocas diversas (23)

Publicada dia 29 de Setembro de 2007

Fatos & gente são-bentenses de épocas diversas (23)

Ao analista, parece não haver dúvida de que a penetração ao interior de Pernambuco se deu aos poucos, ou seja, à medida que a expansão dos canaviais se afastava da zona litorânea em busca de novas fronteiras, logo após a expulsão dos holandeses em 1654. Essa interiorização foi feita ao longo das ribeiras dos rios da sub-região que hoje conhecemos como o Agreste e tinha como objetivo primacial o desenvolvimento da pecuária para fornecer seus produtos ao Recife, Olinda e às zonas açucareiras adjacentes, como a carne de sol, o queijo, a manteiga e as peles para a fabricação de selas e arreios.

Dentro deste contexto, a vocação são-bentense teria de ser necessariamente pela pecuária ou mesmo a agricultura de pequeno porte, destinada quase sempre a atender as necessidades da própria família, sendo que os eventuais excessos de produção eram trocados em face da escassez de moeda sonante naquele tempo. Assim, desde então, a vocação são-bentense foi toda dirigida a pecuária e, depois, a agricultura, desenvolvida no solo fértil das vazantes do rio Una e de seus vários afluentes.

Como é sabido, o município de S. Bento do Una localiza-se na porção central da região do Agreste na extremidade meridional do vale do Ipojuca. A área do município é de 511 km² ou algo em torno de 0,5% do território estadual. Seu território é drenado por dois importantes rios genuinamente pernambucanos: o Ipojuca e o Una. A bacia do rio Una abrange 471 km² da área municipal e a do Ipojuca apenas 40 km², servindo este de divisa com o município de Belo Jardim. Dos riachos são-bentenses, os mais importantes que pertencem à vertente do rio Ipojuca são o Liberalzinho e o Onça que, como se depreende, ficam na porção ocidente-setentrional do município.

O rio Una nasce na serra da Boa Vista em Capoeiras, em terras que pertenceram ao nosso município, e percorre 200 km até sua foz atlântica em Barreiros. Estudos mais recentes, embora não-oficiais, sustentam que as nascentes do rio Una estão no município de Caetés. Dentro do território municipal, seus principais afluentes são: pela margem direita: Jacuípe, Piranji, Chata, Olho d´Água dos Pombos e riacho Salobro, com 18 km de extensão e pela margem esquerda, o riacho Riachão e o Maracujá.

Os atuais limites do município de S. Bento são os seguintes: ao Norte, com Belo Jardim; ao Sul, com Lajedo, Jupi, Jucati e Capoeiras; a Leste, com Cachoeirinha e ao Oeste, com Salobro e Pesqueira. Em linha reta, S. Bento dista 171 km da capital do Estado e 214 km pelas rodovias PE-180 e BR-232.

O ponto mais alto do município fica a 650 metros acima do nível do mar. O clima é bem agradável, predominando condições atmosféricas que caracterizam um tipo climático subúmido. A temperatura média anual é de 23ºC. Os meses mais frios são: junho (21,1ºC), julho (21°C) e agosto (20,9ºC). Já os meses mais quentes são: janeiro (24,2ºC), fevereiro (24,6°C), março (24,4°C), novembro (24,4°C) e dezembro (24,6°C). Com essas temperaturas agradabilíssimas, este fato nunca chamou a atenção das autoridades e dos investidores como local de veraneio e de descanso o que é uma pena. Quantos empregos seriam criados com o desenvolvimento do turismo desse tipo? O inverno são-bentense é gostoso em vista das temperaturas amenas que se comparam as de Petrópolis, Nova Friburgo, Triunfo, Garanhuns e Gravatá. Poder-se-ia até desenvolver o turismo rural nas fazendas mais organizadas onde o visitante pudesse conviver um pouco com a vida campestre. Turismo rural com a boa alimentação típica da região e oferecendo acomodações simples, porém limpas e aconchegantes, seria algo garantidor de salário e renda e mais impostos para o município.

A vegetação são-bentense é típica da caatinga, onde predominam os cactáceos e as bromeliáceas, como o mandacaru, facheiro, faveleiro, avelós, xiquexique e algumas espécies de maior porte como a jurema e a algaroba.

Uma quadra muito interessante, de autoria desconhecida, é a que diz o seguinte:

"Poço Doce é sítio velho,

São Bento é mais antigo;

Mas, São Bento para ser santo,

Na Santa Cruz foi remido."

Os historiadores interpretam que Poço Doce teria sido o nome antigo da fazenda Santa Cruz, bem próxima ao rio Una. Na fazenda São Bento existia um oratório privado onde o padre José Rodrigues Valença, filho de seu proprietário do mesmo nome, celebrava missas e fazia batizados, casamentos e demais atividades que atraiu muita gente, dando início ao arruado. Em 1832, devido à Cabanada, vaqueiros com as famílias, acampados nas matas de Panelas de Miranda, atual Panelas, emigraram para Santa Cruz. Aí se fixaram construindo casas e provocando o desenvolvimento do lugarejo com a instituição de uma feira. A título de curiosidade, a Cabanagem foi uma insurreição popular de caráter político conservador, iniciada em Pernambuco no ano de 1832, logo após a volta de Pedro I a Portugal. Essa insurreição foi totalmente sufocada em 1836.

Evolução Populacional de São Bento do Una

Série histórica 1872 a 1960

Anos 1872 1890 1920 1940 1950 1960

Total 12.239 7.880 20.700 29.918 53.545 57.708

Distrito-sede .... . ....... 11.000 15.204 29.323 29.676

Cachoeirinha .... .......... 4.799 3.588 6.073 6.859

Capoeiras... ...... .......... 4.901 6 646 11.431 11.953

Retiro................ ........... . ......... 4.480 ........... ........

Cabanas............. ......... ......... .......... 6.718 5.015

Espírito Santo... ....... ....... ......... .......... .......... 4.205

Notas explicativas: 1) Nos censos de 1872 e 1890, a vila de São Bento não possuía distritos; 2) O distrito de Cachoeirinha foi criado em 1892; 3) O distrito de Capoeiras foi criado em 1901; 4) O distrito de Retiro foi criado em 1927; 5) O distrito de Retiro teve seu nome mudado para Cabanas a partir de 1944; 6) O distrito do Espírito Santo foi criado em 1957, com parte de terras do então distrito de Cachoeirinha; 7) No final de 1958, o distrito de Cachoeirinha foi elevado à categoria de cidade, levando consigo o distrito de Cabanas; 8) No festival de criação de mais de seis dezenas de municípios no final de 1963, Capoeiras foi elevada à categoria de cidade e 9) No censo de 1960, o IBGE contou os habitantes da Cachoeirinha dentro do município de São. Bento.

Achamos por bem republicar o mapa acima em razão de, em ensaio anterior, ter sido feita sem a devida configuração tabular, ao tempo em que aproveitamos para repetir e fazer algumas outras considerações a respeito do que sugerem números. A contagem da população brasileira nos primeiros recenseamentos deve ter sido feita de maneira precária em razão de a população, do interior, ser rarefeita. Não obstante tal fato, é possível ao analista verificar o seguinte com respeito à população de São Bento. Note-se que a grande seca de 1877 fez com que a nossa população diminuísse acentuadamente, não só em virtude das mortes por fome e sede como também em face da fuga desenfreada para outras regiões especialmente para a Zona da Mata e o litoral da então província.

Em relação à população total de São Bento, nota o grande incremento populacional havido entre os censos de 1940 e 1950. Entre 1950 e 1960, o crescimento população foi ínfimo, devido principalmente às correntes migratórias em direção à capital do Estado, ao Sudeste e ao Centro-Oeste brasileiro, neste caso representado pela nova capital que surgia sedenta de mão-de-obra, especialmente a não-qualificada.

Também é digna de registro a debandada havida no distrito-sede (São Bento) entre os anos 1950 e 1960, sendo que o crescimento vegetativo da população praticamente se igualou com a saída de são-bentenses em busca de melhores oportunidades de estudo e de trabalho principalmente.

Entre os censos dos anos de 1940 e 1950 houve um crescimento excepcional da população total do município, ou seja, incríveis 79%. Isto, talvez, se verificou em virtude de algum erro de contagem, mas deve-se levar em consideração, como ponto forte do aumento populacional, os anos difíceis e incertos da Segunda Guerra Mundial, quando a migração para o novo Eldorado brasileiro, São Paulo, arrefeceu de modo significativo.

Outro fato interessante é que a população de São Bento do Una em 1960, incluindo Cachoeirinha e Capoeiras, era de 57.708 habitantes. O último censo do IBGE ocorrido no ano de 2000 contabilizou em São Bento um pouco mais de 47 mil habitantes, fato que indica que em quarenta anos não conseguimos repor a população que tínhamos quando os municípios de Cachoeirinha e de Capoeiras eram simples distritos nossos.

...

De tudo o que vimos anteriormente, dá para perceber que o município de São Bento do Una possui, na atualidade, apenas dois distritos. O 1º distrito de São Bento do Una é a sede municipal e o 2° distrito é o do Espírito Santo que, conforme já vimos, foi criado pela Lei Municipal n. 409, de 18 de maio de 1957. O distrito do Espírito Santo não possui povoados ou subdistritos. Por outro lado, o distrito-sede, aos que sabemos, possui três povoados: Jurubeba e Pimenta, que distam 18 quilômetros da sede municipal e Queimada Grande a 12 quilômetros.

Como pontos de interesse típicos, S. Bento tem:

1) A lagoa da Pedra que fica a 15 quilômetros da sede, sendo alcançado por estrada municipal. Consta que em 1946 foi realizada pesquisa de natureza arqueológica, detectando-se a existência de ossos de animais pré-históricos da família "mastodon giganteum";

2) A Serra do Grongonzo que fica a um quilômetro a sudoeste da cidade, com 600 metros de altitude, onde existem ruínas de um antigo cruzeiro erigido no início do século XX;

3) A Serra do Gado Bravo, distante nove quilômetros do centro de São Bento. Fica a leste de cidade, sendo alcançada pela estrada municipal que demanda ao distrito do Espírito Santo. Sua altitude é em torno de 350 metros. Na região, localiza-se o arruado quilombola do Gado Bravo que há pouco tempo recebeu eletricidade em suas casas, dentro do programa federal "Luz para Todos";

4) A Serra da Jurubeba, localizada a oeste da cidade e distante 15 quilômetros do centro. Sua altitude é de 800 metros.

5) O Rio Una, que fica a cerca de 400 metros da sede e caracteriza-se por ser de regime temporário, hoje, vergonhosamente, bastante degradado;

6) Museu da cidade, fundado em 1973. Possui no seu acervo o estandarte de São Bento, datado de 1914, a túnica que pertenceu ao primeiro general nascido na cidade, João Augusto de Siqueira, uma corrente de escravos, uma espada, uma patente e o termo de compromisso de oficial da Guarda Nacional deste município, datada de 1915.

7) A Igreja Matriz, em estilo colonial do século XIX, construída pelo padre cearense Antônio Alves de Carvalho, primeiro pároco são-bentense, que comandou a freguesia por quase duas décadas;

8) Sobrado da Praça Cônego João Rodrigues de Melo n. 40, construído no início do século passado, com janelas em arcos e os azulejos portugueses que decoram a parte superior;

9) Festa de Santa Cecília, tradicional evento organizado pela família Siqueira, em que a grande atração era a Banda de Musical, de 15 a 25 de novembro. Novenário seguido sempre de retretas, barraquinhas com comidas típicas e parque de diversões.

10) Corrida da galinha que ocorre nos meses de julho de cada ano e que atrai muitos visitantes;

11) A tradicional Festa de Reis em que reúne grande quantidade de visitantes e de são-bentenses moradores em outros lugares.

A propósito da nossa colina-símbolo do nosso município, o "Dicionário Corográfico, Histórico e Estatístico de Pernambuco", volume 1, de 1908, de autoria de Sebastião de Vasconcelos Galvão, reeditado pela Companhia Editora de Pernambuco em 2007, em edição fac-similar, graças aos esforços do historiador Leonardo Dantas Silva, diz o seguinte:

"Grongonzo – morro – Situado no município de S. Bento, ao sudoeste da cidade deste nome com a forma redonda. A imaginação popular, sempre fértil de lendas, considera como fantástico o cimo de semelhante morro, pois que acrescentam os crédulos, ali se encontra às vezes um grande lago, que desaparece depois, não sendo possível à mesma pessoa vê-lo duas vezes na vida. Além disso, crêem que nesse grande lago há não só riquezas colossais, como grandes tesouros ocultos".

E isso aí, gente. Por hoje é só.

...

Paara elogios, críticas e atualização dos eventos são-bentenses, não tenha receio de entrar em contato com o autor pelo e-mail: [email protected].

Para ver fotos de S. Bento e de pessoas da cidade, acesse www.orlandocalado.flogbrasil.terra.com.br.

Pau Amarelo PE 29 de setembro de 2007

Orlando Calado é bacharel em direito.

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