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Coluna 106: Fatos & gente são-bentenses de épocas diversas (28)

Publicada dia 03 de Novembro de 2007

Fatos & gente são-bentenses de épocas diversas (28)

Enaltecer pessoas que trabalharam em prol do desenvolvimento material e moral da nossa mui leal e heróica cidade de S. Bento do Una, além de prazeroso, não deixa de ser uma obrigação, em forma de homenagem, por parte daqueles que dispõem dos meios de divulgação. Também, em oportunidades outras, trataremos de conterrâneos, que mesmo não vivendo na terrinha, se destacaram nos mais diversos ramos do conhecimento humano, galgando posições graças ao estudo, inteligência, perseverança e àquela força indestrutível não em busca, apenas, da glória, mas do bem-estar dos outros e do progresso da Nação brasileira. Nesse campo, incluem-se médicos, advogados, engenheiros, escritores, professores, agricultores, trabalhadores comuns e militares, além de músicos, cantores e compositores de nível que S. Bento produziu ou que provieram de outros lugares, defendendo os nossos valores em pé de igualdade com os nascidos na cidade.

E aqui não fazemos distinção entre são-bentenses natos ou perfilhados, homens ou mulheres, ricos ou pobres. Todos os que se destacaram nos diversos campos da atividade humana têm nosso respeito e sincera admiração. Eventuais críticas poderão ser feitas aqui ou acolá, mas nenhuma delas terão como fito acinzentar o brilho de quem quer que seja. Assim, não só as personalidades serão focadas. Gente do povo, humilde ou de poucas letras também terão vez, seja o vigia noturno, seja o lixeiro, seja o jardineiro, seja a merendeira, seja o padeiro, seja a parteira, seja o trabalhador rural e de granja, seja enfim o peão ou humilde matuto que a pouco e pouco estão tendo a sua vez e voz no desenvolvimento do nosso País.

S. Bento do Una cresceu muito nos últimos cinqüenta anos e poderia ter crescido ainda mais se não tivesse havido uma acumulação de capital tão grande em mãos de poucos, quase sempre pessoas que não estavam preparadas para lidar com grandes empreendimentos, ou seja, aquelas pessoas que achavam que o "apurado" nas suas transações era lucro e que podia meter o sarrafo, esquecendo-se de deduzir desse "apurado" os seus custos fixos e variáveis. Muitos chegaram ao auge apenas no entusiasmo e sem a devida formação empresarial, daí tivemos muita gente voltando à pobreza. O fato é que os primeiros empresários tinham pouca noção de gestão de negócios, pois o que aprenderam foi apenas na prática, de oitiva. Talvez a eles tenha faltado a competente assessoria ou aconselhamento de contadores, administradores ou mesmo de economistas e de advogados.

Não havia, nas últimas décadas do século passado, aquele órgão destinado exclusivamente a orientar a pequena e a microempresa como hoje possuímos na estrutura extragovernamental, o Sebrae, órgão que vem prestando excelente contribuição ao desenvolvimento da capacidade empresarial do brasileiro com pouco capital, porém cheio de criatividade e vontade de trabalhar.

Nos meus tempos de menino, conheci Joaquim da Silva Costa com sua "Farmácia do Povo", situada na antiga Avenida Manoel Borba, hoje, Oswaldo Maciel, algumas casas depois do palacete de Zé Cadete. Joaquim era um jovem senhor, dedicadíssimo ao trabalho e incansável na sua faina diária de ferver as seringas com todo cuidado já que naquela época nem se pensava em seringas descartáveis. E lá ia Joaquim da Farmácia, malinha à mão, para aplicar aquelas terríveis injeções de "protigeton" (não sei se escrevia dessa forma, porém era assim que eu ouvia dos mais velhos) ou de penicilina que era a coqueluche da época no combate a então terrível tuberculose.

É bem verdade que Joaquim aprendeu a aplicar injeção com seu Lulu, antigo "caixeiro" da "Farmácia S. Bento", que ficava, se não me falha a memória, onde hoje é a "Farmácia Torres". O proprietário da "Farmácia S. Bento" era Abílio Costa, uma figura humana extraordinária que tantos serviços prestou à nossa urbe e ao que me parece tio do jovem boticário Joaquim. Os médicos da cidade, Lívio Valença e Lourival Agra, deram todo apoio ao aplicador de injeção, chamando-o aos seus consultórios sempre que algum paciente necessitasse de uma aplicação urgente na veia ou no músculo.

O jovem senhor Joaquim Costa era dedicadíssimo ao trabalho. Já naquele tempo, a farmácia possuía uma minigeladeira a gás para a produção de gelo apenas. Os meninos ficavam encantados em observar uma pequena lamparina cujo gás era capaz de transformar água em gelo através de serpentinas. Lembro-me, como hoje, desse pequeno aparelho, cujo gelo, aplicado na região onde houve a picada da agulha, ajudava a desinflamar, pois os líquidos injetáveis não estavam ainda aperfeiçoados, de modo que havia alguns injetáveis que provocavam dores e inchaço por muito tempo.

Deixei S. Bento antes do final da década de 50. Soube que depois houve uma grande mudança na matriz econômica do município com quase todo mundo, com algum capital ou com a cara e a coragem, descobrindo o negócio de granja, com a criação de galinhas e produção de ovos. Soube, depois, que o negócio de granja logo fez novos ricos em S. Bento. A cidade se desenvolveu e recebeu muita gente de fora.

Na década de 80, no auge do desenvolvimento são-bentense três ou quatro estabelecimentos bancários se fizeram presentes. O dinheiro rolava. Os negócios iam muito bem, mesmo sem nenhum tipo de planejamento ou prudência no uso do dinheiro farto. Não havia assessoramento contábil, financeiro nem tão pouco econômico. Os granjeiros só se preocupavam em aumentar o saldo de suas aplicações. A partir de 1985, vieram os desastrosos "planos econômicos" que visavam a debelar a inflação, provocada em grande parte pela política "desenvolvimentista" de Juscelino Kubitschek, com a construção de Brasília, desativação das ferrovias e implantação de uma indústria automobilística, com o lixo tecnológico provindo dos Estados Unidos, França e Alemanha, as famosas "carroças".

Em 1973, com o começo da crise petrolífera mundial e em 1979 com o revigoramento dela, o Brasil, vivendo um regime autoritário, fez grandes empréstimos em moeda forte para poder pagar o petróleo importado em vez de promover o racionamento de combustível, numa manobra estritamente eleiçoeira e em prejuízo da Nação. Esses fatos provocaram a maior inflação da história econômica do Brasil, como conseqüência de políticas desastrosas. Os planos econômicos elaborados nos governos de José de Ribamar Sarney e de Fernando Collor de Mello provocaram irreparáveis danos à economia brasileira, levando muitos pequenos e médios empresários à insolvência.

Esse fenômeno, também, alcançou nossa S. Bento. Além de tudo, como o Estado não é grande produtor de milho e outros insumos para a ração, seus custos de produção ficam mais elevados não dando para concorrer com os estados do Centro-Sul que têm tudo à mão.

Joaquim da Silva Costa, primitivamente Joaquim da Farmácia, fez fortuna com a criação de galináceos e a venda de ovos. Porém, as crises econômicas pelas quais o País viveu de 1973 a 1994, aliadas à falta de uma gestão econômico-financeira eficiente, levaram à estagnação quase toda a atividade granjeira são-bentense. E Joaquim, infelizmente foi vítima de tudo isso.

Em março deste ano, por deferência especial de nosso amigo de infância, Jaime Costa, tive a oportunidade de folhear um livro de poesias editado por Joaquim, cujo título não me ocorre no momento. Nesses versos, ele verdadeiramente e sem subterfúgios conta toda sua trajetória de vida da pobreza extrema à riqueza pouco aproveitada. Nota-se nos seus versos a personalidade do homem sofrido, acima de tudo íntegro, oferecendo seus sonetos aos amigos e externando todo seu sentimento por eles.

Alma boa, generosa e acima de tudo uma pessoa que sempre soube enaltecer sua terra e sua gente. Pouco convivi com Quinca e a última vez que o vi foi nos incertos anos do final da década de 50 quando S. Bento era uma cidadezinha pequena, sem luz elétrica nas ruas, e sem nenhum atrativo para os jovens a não ser a qualidade de sua gente, generosa ao extremo.

Em novembro de 2006, na cidade de Garanhuns, o grande são-bentense Joaquim da Silva Costa deu adeus à vida, deixando em todos nós o sentimento de perda de um empresário que muito contribuiu para o progresso e desenvolvimento de nossa cidade.

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Notas:

1) Para críticas, sugestões ou mesmo elogios, dirija-se, sem receio, ao seguinte e-mail: [email protected] que obterá resposta.

2) Para ver dezenas e mais dezenas de fotos de S. Bento, acesse o site www.orlandocalado.flogbrasil.terra.com.br e deixe seu comentário. O procedimento é clicar em cima da foto à direita do vídeo ou em "mais fotos". Há várias páginas com fotos.

3) Pelo fato de não possuirmos revisor, eventuais erros ou inadequações do texto serão revistos depois pelo autor.

Pau Amarelo PE 03 de novembro de 2007

Orlando Calado é bacharel em direito.

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