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Coluna 111: Fatos & gente são-bentenses de épocas diversas (33)

Publicada dia 08 de Dezembro de 2007

Fatos & gente são-bentenses de épocas diversas (33)

A pouco e pouco os assuntos vão rareando e o pesquisador tem que ir buscar novos assuntos que possam de uma maneira ou de outra interessar à comunidade são-bentense. Temos que agendar visitas a museus, bibliotecas, arquivos e outras instituições culturais procurando, a todo custo, deslindar fatos inerentes à vida de nossa cidade bem como dos seus habitantes. Ainda não estamos satisfeitos com o pouco que colhemos a respeito da figura notável do promotor Manoel Cândido Carneiro da Silva que, em agosto de 1939, deixou suas funções de fiscal da lei na comarca de Bom Conselho para assumir como prefeito nomeado de S. Bento.

Daqueles tempos sombrios do Estado Novo varguista, é bem provável que haja relatórios anuais através dos quais os prefeitos davam conta ao governador de suas ações político-administrativas. Quer nos parecer que era comum durante o regime da Constituição de 1891 a 1930, o fato de o prefeito fazer relatórios circunstanciados ao chefe do executivo estadual de então, dando conta das obras e providências tomadas à frente do executivo municipal.

Dito isto, vem, então, à nossa mente o famoso relatório de Graciliano Ramos, então prefeito de Palmeira dos Índios, Alagoas, relativo ao ano de 1928, o qual de forma fascinante e sutil revelou-se excelente escritor e chamou a atenção do mundo literário do Rio de Janeiro, que logo nele apostou. Esse famoso relatório fez o Brasil conhecer um dos seus maiores escritores do século XX. É claro que não esperamos encontrar relatórios exuberantemente escritos, com toda a pureza vernaculista do mágico de Quebrangulo, mas o que foi feito pelo prefeito são-bentense em prol de nossa cidade. Em suma, resta-me saber onde esses documentos se encontram e como chegar a eles. Seria uma felicidade sem tamanho se pudéssemos descobrir onde essas preciosidades se escondem e se foram devidamente preservadas para a posteridade. Caso não consiga esses relatórios a respeito da gestão de Manoel Cândido, bem como de outros alcaides da cidade no período de 1937 a 1945, o jeito é mergulharmos nos jornais da época a fim de colhermos alguma coisa e passarmos aos nossos conterrâneos antes que tais papéis, amarelados pela falta de uma adequada conservação, virem apenas pó. Esse passeio a antigos jornais e diários oficiais se faz necessário, pois que a memória-viva daqueles tempos está desaparecendo e muita gente talvez não mais se lembre de como nossa cidade atravessou o período do Estado Novo.

Em mãos, tenho algumas anotações tiradas do Diário Oficial do Estado, referentes ao ano de 1944 e que têm a ver com nossa cidade. No dia 25 de janeiro do ano antes citado, era publicado um telegrama do prefeito de S. Bento dirigido a Agamenon Magalhães, então interventor federal, que transcrevemos a seguir, já devidamente adaptado à linguagem corrente de hoje:

"É com muita satisfação que comunico a Vossa Excelência que excelentes chuvas caíram neste município: os açudes do Doutor e Missionário, localizados na cidade, achavam-se secos e transbordaram e a cisterna municipal apanhou água bastante. Todos os açudes das fazendas encheram. Segundo opinião de pessoas mais idôneas do município, foi sem favor a maior chuva verificada depois de 1924. Impossível descrever a alegria da população já preparada para deixar a cidade por falta do precioso líquido. Saudações atenciosas. Antônio Félix – Prefeito".

Como se vê, este simples telegrama nos traz uma enorme gama de conhecimento. As chuvas caídas em janeiro de 1944 foram copiosas tais quais as de 1924, conforme os mais antigos da cidade informaram ao prefeito forasteiro. Fica-se, igualmente, sabendo que já existia a cisterna municipal, possivelmente construída pelo prefeito Manoel Cândido Carneiro da Silva, aproveitando o material que sobrou da demolição do antigo Mercado Público. Essa cisterna ficava no mesmo edifício do antigo "Açougue Público", demolido recentemente para a construção do novo açougue. Anos mais tarde, essa mesma cisterna recebeu a primeira água bombeada vinda da barragem do Rio Bituri, localizada na nossa vizinha e simpática Belo Jardim. A propósito, conta a lenda que Zé Mota se empenhou ao extremo, juntamente com os vereadores, para que essa bendita água chegasse a S. Bento. Assim é que, depois de muita luta e carência de verbas públicas, eis que os quase 30 quilômetros de canos trouxeram a alegria para nossa cidade e o prefeito Zé Mota, de tão emocionado, cumpriu uma patriótica promessa e se lançou, de terno e gravata, às águas biturienses da cisterna que inauguraram um novo modo de viver na cidade e depois faria com que os aguadeiros como Tonho de Amélia Vapor, Zé Inhogo e tantos outros botadores de se vissem desocupados. Era o progresso que se iniciava para nossa urbe, fazendo com que esses homens e seus respectivos jumentos tivessem que procurar outra atividade para sobreviver.

O auspicioso telegrama do prefeito Antônio Félix lembra a importância dos dois principais açudes: o Missionário de águas mais claras e o do Doutor com suas águas barrentas. Não sabemos o que foi feito do açude do Missionário, não temos a mínima idéia se ele ainda existe. Espero que não tenha tido a mesma sorte do açude do Doutor, hoje completamente invadido e o seu leito hoje servindo de esgoto a céu aberto, com os dejetos despejados no pobre Rio Una, que tanta alegria proporcionou aos meninos do meu tempo, com suas águas limpas nos tempos de enchentes. Alguém pode dizer: "É o progresso". E nos dizemos: é o "pogresso". As autoridades ditas competentes deveriam exigir a feitura de fossas quando da construção das casas e não permitir o lançamento de dejetos no antigo riacho que abastecia o velho Açude do Doutor nem em outros cursos d´água.

Nós imaginamos a alegria do povo são-bentense com as abundantes chuvas de janeiro de 1944, chuvas que se compararam às de 1924. O União Sport Club certamente abriu seus salões para comemorar tão fausto acontecimento. Zé Manso, o mestre da Banda Musical Santa Cecília certamente convocou seus músicos para abrilhantar uma reunião dançante, mas antes ofereceu a eles um cálice apenas da sua misteriosa bebida chamada "A Moreninha". A alta sociedade são-bentense se reuniu em regozijo, pois que as pastagens logo, logo ofereceriam ao gado um alimento muitíssimo mais em conta e o inverno antecipado certamente proporcionaria abundância, com muito milho verde, feijão, jerimum, melancia e algodão.

Como já dissemos antes, há muito tempo que estamos à procura de notícias do antigo prefeito Manoel Cândido. Já sabemos que ele foi nomeado prefeito de S. Bento por ato de 21 de agosto de 1939 e que deve ter ficado no cargo até pelo menos o ano de 1943, sendo substituído, possivelmente, por Antônio Félix, personalidade que também procuraremos investigar através da imprensa. Não temos a mínima idéia a respeito de Antônio Félix, provavelmente outro não são-bentense nomeado para nos dirigir nos tempos da ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas. Adalberto Paiva governou o nosso município até agosto de 1939 quando foi substituído por Manoel Cândido. Também, através de jornais e diários pretendemos compulsar notícias com relação à administração de Adalberto Paiva.

Dessa forma, seguiremos pesquisando a respeito de fatos e de gente que tiveram relação com nossa cidade. É uma tarefa árdua que demanda tempo, disposição e paciência do pesquisador. E assim os fatos são contados esparsamente, sem uma seqüência cronológica rígida, pois tudo que o pesquisador achar interessante publicará. Queremos apresentar pelo menos o resumo do que aconteceu em nossa cidade nas administrações dos prefeitos Adalberto Paiva, Manoel Cândido e Antônio Félix, de modo prioritário, sempre com base em documentos e jornais da época. Essas três administrações devem abranger todo, o período da nossa história conhecido com Estado Novo e que vai de 1937 a 1945.

Que tenhamos sucesso nessa nossa difícil empreitada para que possamos melhor compreender o desenvolvimento de nossa história político-administrativa!

...

Notas:

1) O autor pode ser encontrado através do e-mail [email protected].

2) Centenas de fotos de S. Bento e de sua gente, recentes e antigas, podem ser encontradas no site www.orlandocalado.flogbrasil.terra.com.br. Comente-as. Esses comentários são importantes para nós do Portal SBU.

3) Como não temos revisor, o presente texto será posteriormente revisto pelo autor e eventuais erros de concordância serão sanados.

Pau Amarelo PE 08 de dezembro de 2007

Orlando Calado é bacharel em direito.

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