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Coluna 118: Pingos de história do Império Brasileiro (5)

Publicada dia 02 de Fevereiro de 2008

Pingos de história do Império Brasileiro (5)

No ano de 1845 a vida parecia correr normalmente na província, não obstante o empenho dos praieiros no convencimento das pessoas a respeito das vantagens de uma república democrática em nossa província, a nacionalização dos estabelecimentos comerciais em mãos de estrangeiros onde predominavam os portugueses. Igualmente sonhavam com um sistema eleitoral onde todos os cidadãos pudessem através do voto escolher os seus dirigentes. Além de tudo, não mais era concebível o regime de escravidão e por isso os praieiros pugnavam pelo trabalho livre e devidamente remunerado para que o País pudesse progredir, aumentando assim o número de pessoas em condições de consumir.

Nesse ano, o imperador Pedro II se tornava pai aos dezesseis anos e a notícia foi destaque na imprensa da Corte e reproduzida pelo Diário de Pernambuco em 10 de março, que reproduzimos em ortografia da época:

“He com o mais vivo sentimento de prazer, que temos de annunciar aos leitores o feliz nascimento do herdeiro da corôa. Hontem, 23 de fevereiro, ás 3 horas da manhãa, uma girândola de 48 foguetes lançada no paço da Boa-vista annunciou que S.M. a Imperatriz estava proxima a dar á luz: era o signal convencionado para que concorressem ao paço da Boa-vista as pessoas que devião testemunhar o acto. Durarão os soffrimentos de S.M. até as 2 horas menos um quarto, momento em que S.M. teve a ventura de dar á luz um principe bem contornado e robusto. He impossível descrever o contentamento e jubilo que se manifestarão entre os assistentes, logo que ouvirão o primeiro vagido de A.A.I. e quando S.M. o Imperador apresentou-lhes o augusto recem-nascido, que havia tomado nos braços. Senhores, exclamou S.M. com voz profundamente commovida, he um príncipe, que Deos... S.M. não pôde acabar; as lagrimas lhe embargarão a voz”.

O ano de 1846, em termos de notícias que pudessem passar a interessar a história, foi escasso. Destaca-se, apenas, uma notícia publicada três de março quando uma sessão do tribunal do júri foi transcrita na página de rosto do Diário de Pernambuco. O texto reproduzia em minúcia todo o interrogatório do réu Antônio Felipe de Lima pelo juiz Ferreira Gomes no dia anterior. Nele o réu reconhece que foi preso portando uma faca de ponta, porém alegou que não sabia que isso era proibido.

O réu arrancou risos da platéia por tratar o juiz de “sua majestade”. Disse Antônio Felipe que estava em Boa Viagem no dia dois de outubro de 1845 quando acabou sendo detido. O advogado de defesa pediu uma pena branda pelo fato de seu constituinte mostrar que era uma criatura ingênua. Por fim, o juiz condenou o réu a um mês de prisão com trabalhos forçados.

Na edição de 18 de fevereiro de 1846, um anúncio trazia a ilustração de um rosto de perfil, destacando em meio aos demais comunicados: haveria baile em um sítio no Cajueiro. O anúncio foi uma das primeiras citações do carnaval pernambucano e dizia o seguinte: “Carnaval campestre. O mestre-sala cientifica a todos os senhores convidados e sócios que o baile é segunda-feira, 23 de fevereiro, impreterivelmente, na casa grande do sítio do Sr. Brito no Cajueiro, e roga aos senhores convidados hajam de comparecer com suas famílias no trajo o mais simples possível; este pedido é para comodidade e liberdade dos mesmos convidados, que quiserem ir ao baile mascarados, o poderão fazer , participando-lhe com antecedência. Outrossim, o mestre-sala participa aos senhores sócios que deverão receber do senhor tesoureiro o cartão com o qual terão ingresso na casa do baile , apresentando-o ao mestre-sala na ocasião da entrada. Adverte mais o mestre-sala que só terão entrada os convidados que apresentarem o cartão de convite e forem reconhecidos os próprios; não sendo admitidos agregados que não pertencerem às famílias convidadas”.

No ano de 1847, foram publicadas as cartas que contavam um suicídio na Corte. Diz um aviso da direção do jornal: “Os subscritores deste Diário lerão, por sem dúvida, com interesse e compaixão, as três cartas que ora copiamos do Jornal co Commercio (do Rio de Janeiro) e que foram escritas pelo infeliz Vicente Ferreira Mesquita Sampaio, poucos momentos antes de suicidar-se. A folha de rosto da edição do dia 30 de outubro de 1847 trazia, como de costume, a Parte Oficial como o assunto que encabeçava o jornal do dia numa época em que não se utilizavam as chamadas” manchetes “. O principal assunto era, pois, o drama de um homem, que não tendo condições de saldar as suas dívidas, decide matar-se.

As citadas cartas datavam de sete e oito de outubro. Neste dia, Vicente Sampaio escreve para dois amigos e um irmão, informando-lhes d sua decisão e pedindo para que eles tomem as providências para garantir que seu nome não será manchado pelo não cumprimento de suas responsabilidades financeiras. Somente com a venda de sua casa e das fazendas que possuía teria como pagar a todos os seus credores.

O ano de 1848 ficou marcado na história do Brasil como o ano em que aconteceu a última revolução no período imperial, a Revolução Praieira. A instabilidade política tinha antecedentes que vinham das revoluções republicanas de 1817 e de 1824. Como já dissemos em trabalho anterior, liberais e conservadores desde o início da década começaram a transformar o Recife num cenário de confronto. O nome do movimento vinha da Rua da Praia, onde funcionava o Diário Novo. Eles reivindicavam o voto livre e universal, liberdade de imprensa, nacionalização do comércio que estava praticamente nas mãos dos portugueses, abolição do trabalho escravo e instauração de uma República.

O movimento foi liderado pelos republicanos Borges da Fonseca e Nunes Machado, com o comando militar nas mãos de Pedro Ivo Veloso da Silveira. A campanha contra o governo da Província teve início no dia sete de novembro, em Igarassu, quando um grupo marchou para Nazaré da Mata para isolar as comunicações do Recife com o interior. Os republicanos ganharam o apoio de 300 integrantes da Guarda Nacional que supostamente teriam que combatê-los.

No dia 10 de novembro, o coronel José Vicente de Amorim Bezerra, com o 4° Batalhão de Artilharia de Posição, reforçado por 80 guardas nacionais policiais deu combate aos revolucionários. No combate travado nas proximidades do Engenho Massupinho, que teve a duração de três horas, foram mortos 18 praieiros e 56 feitos prisioneiros. A perda das forças imperiais foi de 10 homens.

Na edição de 11 de novembro, o Diário de Pernambuco reafirmou sua postura de defesa da legalidade, informando aos seus leitores que, depois dos primeiros combates, a situação estava sob controle.

...

(Na próxima semana, daremos continuidade a estes pingos de história).

Notas:

1) Para elogios, críticas e retificações, escreva para o autor: [email protected] que terá resposta.

2) Para ver centenas de fotos de S. Bento e de sua gente, entre no nosso Blog: www.orlandocalado.flogbrasil.terra.com.br e deixe os seus comentários.

Pau Amarelo PE 2 de fevereiro de 2008

Orlando Calado é bacharel em direito.

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