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Coluna 126: Pingos de história do Império Brasileiro (13) - A Guerra do Paraguai

Publicada dia 29 de Março de 2008

Pingos de história do Império Brasileiro (13) - A Guerra do Paraguai

Em 22 de maio de 1866, o Diário publicou um artigo a respeito da descoberta do conteúdo do Tratado da Tríplice Aliança, firmado pelos governos da Argentina, Brasil e Uruguai, no dia 1º de maio do ano anterior e mantido em segredo.

Dizia o periódico em grafia da época: "Acabamos de ler com sorpresa, e dor profunda, o tratado da triplice aliança, segundo cujas estipulações emprehendemos a guerra contra o ditador do Paraguay. Na verdade nenhum coração brasileiro póde ver sem magoa o modo por que se menosprezam os interesses do Paiz, e se desperdiça o nosso dinheiro, postergando a nossa propria honra. Nesse tratado sacrificam-se principios de alta politica, e obriga-se a nação ao despendio de enormes sommas e de precioso sangue sem que se cure da causa publica. Tão inconveniente tratado ficou occulto; e só agora delle a nação tem noticia, por que o governo inglez o fez publicar para conhecimento do parlamento britannico".

No ano de 1867, bondes a vapor começam a circular no Recife, substituindo aos poucos os veículos de tração animal. Esses bondes na época eram chamados de trens. No dia 5 de janeiro, o Diário, na sua seção "Revista Diária", noticiava, com orgulho: "Começa hoje o serviço ordinário da via-férrea do Recife ao Apipucos, limitado ao Caldeireiro por ora; partindo o primeiro trem da rua Formosa às 3 horas da tarde". Era mais um passo que a capital da província dava em busca da modernidade. A nota também divulgava os horários dos serviços e os postos de parada: Rua da Soledade depois da curva de Manguinhos, em frente da estrada dos Aflitos, estrada do sítio da Jaqueira, saída do Parnamirim e estrada de Casa Forte.

Mais uma vez, Pernambuco era a primeira província depois da capital do Império a operar com bondes a vapor. Duas locomotivas foram especialmente construídas para circular nas ruas. As primeiras deste tipo no mundo foram adquiridas pela empresa inglesa "Brazilian Street Railway", mais conhecida pelo povo como "Estrada de Ferro Caxangá. Aos poucos as linhas foram sendo expandidas, de sorte que, ainda em 1867, o bonde chegou ao bairro de Dois Irmãos. Só em 24 de junho de 1870, foi que a linha alcançou a Caxangá. Em 24 de dezembro de 1871 entrava em circulação a linha Arraial (Casa Amarela).

A Companhia de Trilhos Urbanos, de capital brasileiro, também explorou o novo meio de transporte. Em 20 de junho de 1870, era, pois, inaugurada a linha Recife-Olinda-Beberibe, usando locomotivas inglesas e vagões norte-americanos.Mais tarde, em 1885, outra linha foi construída para a Caxangá. Os bondes a vapor circularam no Recife até a Guerra Mundial de 1914-1918. Os bondes de tração animal não foram totalmente descartados da paisagem recifense: a "Pernambuco Street Railway" abriu uma linha desse tipo em 22 de setembro de 1871, ligando o centro do Recife ao bairro da Madalena.

Voltando à Guerra do Paraguai, ainda em 1867, mais especificamente no dia 24 de junho, o Exército brasileiro executou a primeira operação militar aérea, no Paraguai, utilizando-se de um balão.Os acontecimentos mais importantes dos anos de 1868 e 1869, registrados pelo periódico pernambucano, tiveram relação com os combates travados. O jornal transcrevia documentos oficiais expedidos pelo Ministério da Guerra. No dia 1º de fevereiro de 1869, foi publicado um relato do capitão argentino Adolpho Sagnier que esteve no campo de batalha. Numa correspondência, contou como os prisioneiros aliados foram pessimamente tratados nas prisões mantidas pelo ditador Solano Lopez. Diz o jornal: "O capitão Adolpho nos forneceu os seguintes detalhes sobre os atos de barbárie perpetrados pelo inimigo. O ditador paraguaio fazia castigar os prisioneiros com 500, 1.000 e até 1.200 açoutes antes de os fuzilar. O Dr. Carneras foi assim açoutado da maneira mais bárbara. O Sr. Sagnier que se achava à vista do Dr. Carreras, também com ferros nos pés, havia cinco meses, tudo presenciou, e refere-se até os gritos que dava o Dr. Carreras aos golpes de laço e das chibatas".

Com 21 mil homens sob o seu comando, o conde D´Eu, que havia substituído o marquês de Caxias no comando das tropas aliadas, chefiou a campanha contra a resistência paraguaia na chamada Campanha das Cordilheiras. Em 05 de janeiro de 1869, o exército aliado entra em Assunção. Os combates ainda se prolongariam até o dia 1º de março de 1870 quando Francisco Solano Lopez, que havia sido ferido a lança e depois baleado nas barrancas do arroio Aquidabanigui, em Cerro Corá, foi morto e a Guerra do Paraguai oficialmente terminada.

Em 1870, o periódico pernambucano assim se expressava a propósito do término do conflito envolvendo quatro países sul-americanos: "Está chegada a seu termo a guerra sanguinolenta e porfiada do Paraguai; os exércitos vitoriosos e rareados pela morte retiram-se; o audaz e temeroso inimigo foragido e acossado de montanha em montanha, desalojado de recesso em recesso, procura nos paroxismos da raiva e de uma obstinação insana macular por mais tempo o solo que inutilmente regou com tanto sangue generoso, e de altanado ditador, contenta-se já agora com o papel subalterno de bandido. O acoite daqueles povos ainda debate-se e nas agonias do desespero impotente e repasta-se de vítimas".

O Paraguai, ao término da guerra, se encontrava numa situação precária, pois não tinha homens adultos em sua população. A proporção era de 28 mulheres para cada paraguaio em condições de constituir família.

O Brasil venceu a guerra no campo de batalha, porém a Argentina levou a melhor nos despojos da guerra, pois anexou a seu território parte do território paraguaio e ainda se tornou mais forte economicamente por ter abastecido as tropas aliadas com carne e outros produtos. E o Brasil começaria a enfrentar as dívidas contraídas com as duas casas bancárias inglesas, a Baring Brothers e a Rothschild.

Na volta da guerra, Pernambuco prestou homenagens aos integrantes do 53° Batalhão de Voluntários da Pátria, que retornou ao Recife em março de 1870, depois de enfrentar batalhas desde maio de 1866. Os acadêmicos de direito promoveram uma passeata cívica. Os voluntários, que enfrentaram na pele o trauma e o desconforto da guerra, estavam de volta à vida provinciana para serem depois esquecidos pelos serviços que prestaram à pátria.

A história registra a participação de mulheres na Guerra do Paraguai. Jovita Alves Feitosa, uma piauiense, apresentou-se ao alistamento vestida de homem aos 17 anos. A história dessa jovem acabou sendo usada para estimular o aparecimento de mais voluntários. Acredita-se que ela faleceu em 1867 no teatro de operações e numa situação jamais esclarecida. A pernambucana Maria Curupaiti foi a guerra também vestida de soldado e acompanhando o marido, um cabo-de-esquadra.

Ao término da guerra, o Brasil tinha uma das armadas mais potentes do mundo e um Exército consciente do seu papel e real valor, reivindicado melhores soldos e reconhecimento, além de dar início ao longo e tormentoso ciclo de intervenção na política brasileira, ciclo este só encerrado com o término do último regime militar que mandou no país de 1964 a 1985.

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Pau Amarelo PE 29 de março de 2008

Orlando Calado é bacharel em direito.

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