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Coluna 132: Pingos de história do Império Brasileiro (19) - A corrupçao na vida pública; o espírito empreendedor do barão de Mauá

Publicada dia 10 de Maio de 2008

Pingos de história do Império Brasileiro (19) - A corrupçao na vida pública; o espírito empreendedor do barão de Mauá

Como o leitor da já deve ter percebido, esta série denominada de "Pingos de história do Império Brasileiro" retrata o modus vivendi de nossa gente e de nossa política naqueles tempos em que o Brasil fazia um esforço transcendental para superar suas dificuldades internas e promover o bem geral de seu povo. Problemas havia de várias naturezas. O cancro da escravidão manchava, sobremodo, o nosso orgulho de viver num paraíso tropical, isto é, sem ter que enfrentar calamidades como terremotos, vulcões, frio e neve intensos durante boa parte do ano. Os brasileiros já começavam a amar, de verdade, sua pátria. O imperador Pedro II era um homem de elevada cultura e suas rotineiras viagens ao exterior, principalmente à Europa e aos Estados Unidos, tinham por objetivo maior tomar conhecimento das novidades, mormente nas áreas de desenvolvimento tecnológico, as quais poderiam ser utilizadas depois no seu vasto império. Quem tiver o privilégio de visitar o Museu Imperial de Petrópolis, vai ver a coleção de instrumentos científicos que pertenceu ao nosso imperador Pedro II.

Então, o que apresentamos são fatos de natureza jornalística, que possam nos mostrar o quotidiano brasileiro, de então, com suas mazelas. É bem verdade que a formação territorial do Brasil se deu de modo pacífico e não tivemos, como os Estados Unidos, de tomar terras de mexicanos, como a rica Califórnia, o Arizona, o Novo México, o Texas, o Colorado, ou de comprar a franceses, espanhóis e russos, respectivamente, os territórios da Louisiana, Flórida e Alasca. Nosso alargamento territorial, além da linha do Tratado de Tordesilhas, se deu de modo manso e pacífico, com a penetração de "entradas" e "bandeiras" na caça de índios para escravizar e de ouro e pedras preciosas.

A corrupção, maldita herança dos nossos colonizadores, estava presente, como ainda está nos tempos de hoje, no dia a dia das repartições públicas e quem dispusesse de prestígio por ser produtor rural era agraciado com títulos de barão. A cafeicultura brasileira produziu centenas de barões e baronetes, isso sem falar em outros grandes proprietários de terra, os latifundiários, e produtores de açúcar que tinham sempre as benesses do Estado brasileiro para aumentar ainda mais suas fortunas. Eles todos se beneficiaram da mão-de-obra servil para nossa vergonha, tanto que fomos o último país do ocidente a extinguir a trabalho escravo. De mais a mais, esta elite tinha para sua defesa e defesa dos seus privilégios a Guarda Nacional, instituição criada pelo ministro da Justiça da primeira regência, o padre Diogo Antônio Feijó. A criação dessa milícia teve por objetivo afastar o Exército de suas funções de guarda do patrimônio público e particular. Isto porque essa aristocracia não confiava na força terrestre imperial, formada na sua maioria por pessoas provindas dos estratos mais baixos da sociedade e que, por isso, não mereciam a confiança dos grandes proprietários.

Na Corte do Rio de Janeiro, alguém, muito espirituoso, descreveu com propriedade as roubalheiras e os desfalques contra os cofres públicos. Senão, vejamos esses versinhos que retratavam a corrupção nas barbas do imperador:

"Quem furta pouco, é ladrão,

Quem furta muito, é barão.

Quem furta, mas esconde,

Passa de barão a visconde.

Furta Azevedo no Paço,

Targhini rouba no Erário.

E o povo aflito carrega

Pesada cruz no Calvário".

De qualquer modo, cumpre-nos ressaltar que a cafeicultura que se desenvolveu basicamente no Rio de Janeiro, Minas e São Paulo, foi fator determinante da relativa estabilidade política do reinado de dom Pedro II. Assim, a cultura do café e a cana de açúcar foram o sustentáculo da nossa frágil economia, exportadora de sobremesas e assim sujeita às conjunturas de crises, pois numa situação difícil a primeira coisa que se faz é cortar os supérfluos e café e açúcar sofriam com as crises de outros países importadores dos nossos produtos. Nossa fragilidade em termos de desenvolvimento econômico se devia em grande parte à persistência da estrutura colonial, em especial, da escravidão. O barão de Mauá tentou sacudir nossa economia, implantando uma fábrica de gás no Rio de Janeiro. O espírito irrequieto desse empreendedor fez com ele bancasse a iluminação a gás e criação de um banco que levava seu nome. Ao barão de Mauá, cujo nome era Irineu Evangelista de Souza, nós devemos a ousadia de sua atuação em diversos setores da economia. Era um homem que acreditava no que fazia e não tinha medo de arriscar sua fortuna em negócios que não pudessem dar certo. Era um idealista, um nacionalista, e por isso mesmo granjeou muito inimigos, invejosos da maneira como o barão administrava sua fortuna e não raras vezes teve que começar tudo de novo, diante das dificuldades de todo tipo, inclusive políticas. Era um empreendedor nato, aquele homem que não teme o risco e que queria porque queria tirar o Brasil das amarras de nação importadora de quase todo tipo de bem.

Nesse surto de empreendimentos, Mauá investiu sua fortuna na produção de navios, construção de estradas de ferro e de linhas telegráficas. Ao barão de Mauá, o Brasil deve o privilégio de ter criado, pelos idos de 1846, o primeiro estaleiro da América do Sul. Infelizmente, todos os empreendimentos do barão de Mauá não tiveram prosseguimento a partir de 1864 quando houve uma grave crise bancária e o nosso empreendedor não teve com honrar seus pagamentos diante da sua insolvência na década de 70 do século XIX quando começou a derrocada política do Império Brasileiro.

No ano de 1878, os jornais ainda sofriam a defasagem das notícias. Embora o telégrafo estivesse funcionando desde 1874, o jornal poderia informar aos seus leitores, com a diferença de alguns dias os fatos que estivessem ocorrendo no mundo e na Corte do Rio de Janeiro.Os vapores, barcos que faziam a ligação entre as capitais brasileiras, continuavam sendo os fornecedores de notícias, seja através de material impresso, seja através de correspondências. O telegrama despachado de Nápoles, com 35 palavras, dando conta do atentado ao rei Humberto I da Itália, com data de 28 de novembro de 1878, só saiu publicado no nosso Diário de Pernambuco no dia 20. A título de curiosidade, vamos reproduzir o despacho: "Acaba de haver aqui uma tentativa de assassinato contra S. M. o rei Humberto I. Ficaram feridos, sem gravidade, o rei e o ministro Cairoli. O criminoso foi preso, é um jovem socialista".

Ainda em 1878, o jornal começou a publicar, em pequenos trechos, o "Tesouro da Família", um compêndio com informações úteis para quem desejasse iniciar uma nova atividade doméstica. Entre outros assuntos, o Diário orientava seus leitores a conhecer mais sobre o mundo da jardinagem ou sobre higiene doméstica.

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(Continuaremos na próxima semana)

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Pau Amarelo PE 10 de maio de 2008

Orlando Calado é bacharel em direito.

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