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Coluna 152: S. Bento do Una, um breve passeio ao longo de sua história (9)

Publicada dia 11 de Outubro de 2008

S. Bento do Una, um breve passeio ao longo de sua história (9)

A FREGUESIA DE SÃO BENTO (continuação)

O quarto vigário a pastorear o rebanho cristão são-bentense foi o padre Augusto Berenguer Alcoforado. Ele assumiu o cargo no dia 27 de fevereiro de 1908. Naquele tempo, São Bento era um agrupamento de casas em contínua expansão. As melhores edificações da nova cidade ficavam justamente lado a lado com o imponente templo voltado para o Norte. Por esta razão, não há dúvidas de que os habitantes da época procuraram edificar suas residências bem próximas ao majestoso templo. Não se sabe ao certo o que motivou os primitivos habitantes a erigir a igreja virada para o Norte, sendo mais provável que o fato tenha ocorrido em razão de se voltar para o Rio Una, fonte de água e de vida na época das chuvas.

Uma antiga fotografia, possivelmente da primeira década do século XX, estampada na página 38 do quarto e último volume do "Dicionário Corográfico", de Sebastião Galvão, editado em 1927, pela Imprensa Nacional, tirada da descida da fazenda Agra mostra, com riqueza de detalhes, a então rua da Matriz, onde se destacavam, além do templo, os dois sobrados e o casario ao lado deles. Ao fundo, nota-se os serrotes de Santa Cruz e do Grongonzo. Embora naquela época não se falasse em planejamento urbano, o fiscal e o cordeador cumpriam à risca as posturas da Câmara Municipal de São Bento, aprovadas pela Lei Provincial n. 554, de 04 de maio de 1863, de modo que nenhuma construção ficasse desalinhada das demais. E as ruas do centro da cidade até hoje atestam este fato.

Nesse bucólico cenário interiorano, nomeado que fora por provisão do bispo de Pernambuco, dom Luiz Raimundo da Silva Brito, padre Alcoforado assumiu como vigário encomendado para ficar pouco menos de dois anos dirigindo, aconselhando e orientando o seu rebanho. Em 4 de fevereiro de 1908, o padre Alcoforado teve renovada a sua provisão de vigário encomendado da freguesia de São Bento. É certo que ele gostou do clima e da salubridade do lugar. O ar seco, leve e puro, embora quente durante o dia e fresco e agradabilíssimo durante a noite lhe fizera bem. Seus problemas respiratórios e pulmonares chegaram a bom termo. E por isso mesmo nomeado que foi pelo seu bispo para outras missões, como a de vigário de Igarassu e depois de Itamaracá, nunca esqueceu os ares benéficos e o povo bom e ordeiro de São Bento. Com muita tristeza nosso pároco deixou sua multidão de fiéis em torno de dez mil almas que incluía, além, evidentemente, da cidade de São Bento e seus arruados, quarteirões e sítios, as povoações de Cachoeirinha, Jupi e Lajeiro (hoje Lajedo).

No livro organizado pela professora Ivete de Morais Cintra, "São Bento do Una: Formação Histórica" está consignado o seguinte: O padre Augusto Berenguer Alcoforado, filho do escrivão Augusto Berenguer de Almeida Alcoforado e de Adelaide Augusta de Almeida Alcoforado, nasceu em Água Preta (PE) no dia 23 de abril de 1872. Foi batizado no dia 30 de maio do mesmo ano, na cidade de Olinda, sendo seus padrinhos Alípio Camerino dos Santos e dona Júlia Francelina de Almeida Alcoforado. Ordenou-se no dia dois de dezembro de 1894. Obteve provisão de capelão da catedral de Olinda, ainda seminarista, em maio de 1894. Foi vigário coadjutor de Papacaça (Bom Conselho) de janeiro de 1895 a dezembro de 1896. Vigário de Olinda de dezembro de 1896 até 1899, regendo também a freguesia de Mamanguape. Vigário de Taquaritinga de 1900 até 1906. Vigário de Tacaimbó em fevereiro de 1907 até fevereiro de 1908.

...

O quinto vigário são-bentense foi o padre Joaquim Elísio Cavalcanti. No dia 2 de fevereiro de 1910, em missa conventual, o padre Augusto Berenguer Alcoforado leu a provisão de vigário encomendado da São Bento em favor do padre Joaquim Elísio Cavalcanti. O documento provisional foi assinado pelo bispo Luiz Raimundo da Silva Brito e era datado de 24 de janeiro do mesmo ano de 1910 e tinha como prazo de vigência o dia 31 de dezembro de 1910.

Já em 13 de março de 1910, o padre Joaquim Elísio pedia autorização episcopal para alienar algumas reses pertencentes ao patrimônio da paróquia para, com o produto dessa venda, comprar uma casa paroquial. No dia 26 desse mesmo mês e ano, dom Luiz, bispo de Olinda, do palácio de Soledade, autorizou a operação de transação proposta pelo vigário ao tempo em que determinou que "a escritura fosse passada em nome da fábrica da freguesia".

Com o gado vendido, a paróquia arrecadou a quantia de 1:540$000, ou seja, (um conto e quinhentos e quarenta mil réis) dinheiro mais do que suficiente para comprar a casa por 950$000 (novecentos e cinqüenta mil réis) e pagar as despesas com impostos e emolumentos e registros cartorários no valor de 139$200 (cento e trinta e nove mil e duzentos réis). A despesa total com a aquisição da casa importou em 1:089$200 (um conto e oitenta e nove mil e duzentos réis). Dessa maneira, restou um saldo em caixa de 450$800 (quatrocentos e cinqüenta mil e oitocentos réis). Homem honesto por natureza e profissão, o padre Joaquim Elísio deu conhecimento ao seu superior hierárquico desse resíduo monetário e ficou no aguardo da ordem do bispo de Olinda para lhe dar a devida aplicação.

Talvez por não ter gostado de trabalhar em São Bento ou por outras razões de ordem pessoal, ele tinha em vista servir em outra localidade maior, como Pesqueira ou Caruaru, padre Joaquim Elísio Cavalcanti ficou na paróquia de São Bento por pouco mais de seis meses, ou seja, até 15 de agosto de 1910, de sorte que até o final desse ano esteve fora se preparando para o concurso para o qual haveria de ser nomeado, no ano de 1911, pároco de Quipapá.

Fica, pois, assinalado que a atual casa paroquial da cidade de São Bento do Una foi comprada no ano de 1910. Ela já existia desde o tempo do vigário João José do Espírito Santo e foi objeto de polêmica entra esse sacerdote e a Municipalidade até que o juiz de capelas determinou a lavratura do termo de aforamento em favor da paróquia, sob pagamento do preço anual que se costumava pagar em favor da matriz, como vimos em ensaios anteriores.

Do mesmo livro antes citado neste ensaio, anotamos o seguinte: O padre Joaquim Elísio Cavalcanti, filho de José Cavalcanti de Carvalho e de Maria Cavalcanti de Albuquerque Brito, nasceu em 1881, em Pesqueira, tendo sido batizado com cinqüenta dias, no dia 26 de novembro de 1881. Foram seus padrinhos: Manoel Cavalcanti Brito e Joaquina Branca de Carvalho. Ordenou-se em 20 de novembro de 1904 na capela do Seminário de Olinda. Foi vigário encomendado, da freguesia de Panelas de Miranda de dezembro de 1904 a dezembro de 1907. Capelão da Usina de Goiana de abril de 1907 a janeiro de 1910, Vigário encomendado de São Bento (...). No dia 11 de junho de 1910, inscreveu-se como opositor da freguesia de Caruaru, Pesqueira e Quipapá. Ganhou Quipapá e a respeito da sua atuação naquela freguesia, Valença Júnior , na sua "História Médica de Quipapá", relata a assistência religiosa e a dedicação de apóstolo dispensada aos variolosos pelo monsenhor Joaquim Elísio Cavalcanti, durante o tempo em que regeu a freguesia de Quipapá, da seguinte maneira: "Sempre que foi solicitado, dirigia-se ao isolamento, onde ouvia em confissão os interessados, distribuía comunhões e confortava os doentes. Em uma dessas visitas chegou mesmo a efetuar o casamento de um par que vivia maritalmente. Ambos, na ocasião, em estado grave. Ao narra-me esta ocorrência, salientou a grande emoção que sentira, uma das maiores de sua vida de sacerdote, quando lançou a sagrada bênção sobre aquelas mãos trêmulas, disformes, cobertas de úlceras e escaras".

As providências que o padre Joaquim Elísio tomava para evitar contágio consistia em pingar gotas de ácido fênico no escapulário que conduzia no pescoço. Em uma dessas visitas a quantidade instilada foi tão grande que resultou em queimadura que o atormentou por muito tempo.

Ele tinha o cuidado de levar peças sobressalentes de sua vestimenta sacerdotal, deixando-as em determinados lugares. Quando voltava de uma missão junto aos doentes, incinerava todas as vestes com que havia estado com os doentes no isolamento, evitando assim a propagação da varíola.

Ele foi sem dúvida uma grande alma, um Mahatma Gandhi pernambucano.

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O sexto vigário titular da freguesia, padre Joaquim de Albuquerque Carvalho Melo, tomou posse em 16 de agosto de 1910 e ficou à frente dela até o dia 30 de dezembro de 1911. O livro do tombo da paróquia não registrou nenhum ato inerente à passagem desse sacerdote. Apenas o retrato dele pode ser visto na secretaria paroquial constando as datas de entrada e de saída. O historiador são-bentense que quiser conhecer algo a respeito da figura do padre Joaquim deve procurar o arquivo histórico da Arquidiocese de Olinda e Recife onde, certamente, não terá dificuldades em encontrar os dados biográficos de Joaquim de Albuquerque Carvalho Melo e de sua ação pastoral. Sua presença em São Bento está consignada com sua assinatura nos livros de assentos de batizados e de casamento como bem assinalou a historiadora Ivete de Morais Cintra na obra já citada.

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(Continua na próxima semana)

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Pau Amarelo, PE, 04 de outubro de 2008

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Pau Amarelo PE 11 de outubro de 2008

Orlando Calado é bacharel em direito.

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