A PARÓQUIA DE SÃO BENTO (continuação)
O sétimo vigário encomendado a presidir a paróquia de São Bento foi o padre Antônio Pereira Martins, nomeado que fora por provisão de 23 de dezembro de 1911, assinada por dom Luiz Raimundo da Silva Brito, último bispo de Olinda e, também, primeiro titular do arcebispado da antiga capital pernambucana, a partir do final de 1910, por decisão do papa Pio X.
No dia dois de fevereiro de 1912, o padre Pereira Martins relatou à cúria metropolitana que encontrou a igreja-matriz em “estado deplorável”, suja, com a pintura se descascando e “quase incapaz de nela exercer-se o culto divino”. Informou, ainda, que na fábrica havia uma quantia em torno de 500$000 (quinhentos mil réis), proveniente do resto da venda do gado do patrimônio paroquial. Por fim, solicitou autorização para levantar a citada quantia como auxilio às despesas a fazer com a limpeza do templo.
Recebida a autorização do arcebispo, no fim do mesmo mês de fevereiro, o vigário deu início às obras e com o valioso auxílio dos paroquianos os trabalhos não sofreram interrupção, terminando no dia dois de junho de 1912.
Administrador zeloso e cônscio de suas responsabilidades, padre Antônio Pereira Martins prestou conta do dinheiro investido na recuperação da igreja-matriz, enumerando os trabalhos realizados:
1) Construção de uma capela para o Bom Jesus dos Passos;
2) Cimentação de todo o pavimento da igreja;
3) Reconstrução do altar onde estava a imagem do Sagrado Coração e nele colocado a imagem de São Vicente de Paula;
4) Pintura e douramento do alto-mor e dos dois laterais;
5) Aquisição de cinco lâmpadas para iluminação da igreja;
6) Construção, com grandes dificuldades, de vinte e quatro bancos os quais foram colocados no corpo da igreja. (Livro-Tombo n. I da Matriz de São Bento).
No dia 17 de outubro de 1912, o arcebispo dom Luiz Raimundo esteve, de novo, em visita pastoral aos “nossos filhos amados de São Bento,”, depois de passar pela capela de Jupi que na época pertencia à paróquia de São Bento., onde seu coração muito se alegrou pela generosa hospitalidade com que fora recebido “e pela candura e fé com que recebiam os sacramentos e a doutrinação que fizemos”. No tocante à sede da paróquia, dom Luiz disse: “Aqui na nossa conhecida São Bento muito temos que agradecer ao Senhor pela estado em que encontramos este bom povo e pelo asseio e beleza à qual o Reverendíssimo Pároco, padre Antônio Pereira Martins conseguiu elevar a velha Matriz. Muito louvamos pelos seus trabalhos e zelo”.
Na secretaria da paróquia, podemos observar as fotografias de todos os vigários titulares que passaram pela freguesia de São Bento. A fisionomia do padre Antônio Pereira Martins, apesar de jovem, se nos apresenta com olhar profundo e ao mesmo tempo de tristeza. Não se sabe, ao certo se, à época do instantâneo registrado, ele já vinha sofrendo de algum mal. A professora Ivete de Morais Cintra na página 106 do livro “São Bento do Una : Formação Histórica” informou que no Livro-Tombo n. dois, está escrito o seguinte:
Faleceu aos 15 de maio de 1914, nesta cidade , confortado com os Santos Sacramentos, o Reverendíssimo Padre Antônio Pereira Martins, com 34 anos de idade, filho legítimo de Manoel Antônio Martins e Clara Pereira, sendo vigário desta Paróquia. Causa mortis? Febre biliosa (febre tifóide).
Naquela época, as condições sanitárias eram precárias e os recursos médicos e os medicamentos não estavam tão desenvolvidos como nos dias de hoje. Tão jovem o padre Antônio Pereira Martins deixou o seu rebanho e a Igreja perdeu um sacerdote dinâmico e muito elogiado pelos seus superiores. Ele foi ceifado pela febre tifóide que é uma doença infecciosa causada pela bactéria Salmonella typhose, mal que se prolonga por várias semanas e que inclui no seu quadro clínico: cefaléia, febre contínua, apatia, dor abdominal entre outras coisas, podendo em certos casos ocorrer perfuração intestinal. Imaginamos o quanto sofreu nosso sacerdote num lugar distante e sem os recursos médicos, sendo tratado com os recursos da “medicina popular” à base de ervas e cascas de árvores para fazer passar a febre e as constantes dores de cabeça. No campo da farmacologia laboratorial, nessa época, em São Bento, Rodolfo Paiva fornecia medicamentos em seu estabelecimento comercial que podia servir apenas de paliativo. O tifo, além de mortal, é altamente contagioso. Conta a história que no fim do século XIX, na Rússia, a febre tifóide ceifou milhares de pessoas. Os médicos chamados “normais”, isto é, portadores de formação acadêmica completa, além de não terem nenhum tratamento contra o mal, também tinham receio de entrar em contato com os doentes. E nossa São Bento, impotente, lamentou o sofrimento e a morte do jovem pároco que pastoreou seu rebanho por pouco mais de dois anos, sendo sepultado no cemitério municipal.
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O padre Francisco de Luna Sobrinho foi o oitavo vigário encomendado da freguesia de São Bento. Homem culto, inteligente e organizado, fez o registro da morte do seu antecessor, bem de todos os fatos importantes ocorridos no território de sua paróquia durante os sete anos que à frente dela esteve. Em razão de nossa terra nunca ter tido periódicos de longa vida que registrassem o quotidiano de nossa gente, nós, simples pesquisadores, temos que nos louvar nos registros paroquiais, nos cartórios do cível e do crime e nos registros e ofícios expedidos ao presidente da província pela câmara municipal. Homens como Adalberto Paiva e padre João Firmino se dispuseram a registrar alguns fatos a respeito de nossa formação histórica. O primeiro mais ligado aos começos do “lugar de São Bento” e o segundo mais afeito às coisas da freguesia já que tinha livre acesso aos livros-tombo da paróquia, muito pouco utilizado para, pelo menos, registrar os principais fatos ocorri dos em cada ano eclesiástico. A falta de consciência histórica de alguns pastores em redigir os acontecimentos nos livros paroquiais chegou ao cúmulo quando não se registrou a passagem de um certo vigário. A presença dele é atestada somente pelas assinaturas apostas nos assentos de batizados e de casamentos. Em termos de registros históricos não oficiais temos a “Gazeta de S. Bento”, com dezoito exemplares depositados no Arquivo Público de Pernambuco, situado na Rua do Imperador, Recife. Muito devemos ao “Jornal Pequeno” que após encerar suas atividades teve a feliz iniciativa de preservar jornais da imprensa do interior. A coleção de dezoito exemplares da “Gazeta de S. Bento” vai de seu número inaugural de 21 de março de 1900 até março de 1901. Examinamos com a devida atenção o último exemplar em poder do citado arquivo e nele não encontramos nenhuma menção de que o periódico encerraria suas atividades. Por esta simples razão, é de se concluir que a “Sociedade 21 de Março” continuou a editar seu jornalzinho, pois que ele era impresso em tipografia própria localizada certamente em São Bento e tinha como um dos redatores o Dr. Eduardo Correia da Silva, juiz de direito da comarca. Ivete Morais Cintra, em livro já citado neste ensaio, afirmou ter visto apenas as quatro primeiras edições. Nós, pelo menos, tivemos a ventura de ver e de se emocionar com dezoito edições da “Gazeta de S. Bento”. Chegamos a fotografar algumas páginas de rosto, porém os primeiros exemplares da pasta estão em petição de miséria, ou seja, se esfarelando ao simples contato. É uma pena ver preciosidades que relatam nossa São Bento na passagem de vila para a cidade se desintegrando por falta de um cuidadoso sistema de arquivamento e proteção de papéis antigos que têm na luz do dia seu principal inimigo. Pedimos desculpas por ter saído do assunto principal, a freguesia de São Bento. No entanto, pedimos mais uma vez permissão para louvar nomes como Sebastião Cintra, além de Ivete Morais, na história formal, e Leone Valença, na história informal, com seus livros. Eles contribuíram em muito para divulgar nossas coisas. Gilvan Lemos, na sua obra-prima “Espaço Terrestre”, versando sobre o desbravamento do território são-bentense pelos nossos antepassados, mesmo permeando ficção e realidade, também deu sua contribuição para melhor conhecermos o nosso passado de glórias e desventuras.
Então, com dissemos antes, o oitavo vigário da Matriz do Bom Jesus foi Francisco de Luna Sobrinho. Ele veio transferido d a paróquia de Nossa Senhora do Ó de Altinho. Sua nomeação se deu por provisão de dom Luiz Raimundo da Silva Brito, arcebispo metropolitano de Olinda. Padre Francisco chegou a São Bento no dia 13 de junho de 1914. No dia seguinte, um domingo, dentro da oitava de Corpus Cristi, ele leu para os fiéis reunidos a citada provisão, tomando posse da freguesia e celebrando a missa “pro-populo”.
Meses depois, senhor da situação, Padre Luna estabeleceu na paróquia a “Associação da Doutrina Cristã”, cuja primeira mesa ficou assim constituída:
Presidente: D. Leonor Paiva;
Vice-Presidente: D. Mariá de Oliveira Paiva;
Primeira Secretária: D. Maria Celina;
Segunda Secretária: D. Alaíde Farias;
Tesoureira: dona Júlia Ramos.
Catequistas:
D. Ester Siqueira;
D. Maria Augusta Siqueira;
D. Áurea Siqueira;
D. Margarida Burgos e
Sr. Joaquim Lemos.
No livro-tombo n. 1, o vigário Luna deixou consignado circunstanciado relatório da situação em que encontrou a Matriz. Detalhista, assinalou que encontrou “dois paramentos brancos, um vermelho, já usado, um roxo e um preto”. Disse que a Matriz tinha corredores com comunicação para o corpo central da igreja por duas portas; que a Casa Paroquial estava em mau estado e que ajudado pela família Paiva começara a reforma da Igreja-Matriz, tendo aberto seis arcos no corpo do templo e dois na capela-mor. Toda a Matriz foi pintada e esse ser viço teve como encarregado Francisco Lemos que nada cobrou, porém o pároco achou por bem e justo gratificar o colaborador. E deixou a “declaração para que em todo o tempo conste que o mesmo pintor é um benemérito da nova Matriz”. Dinâmico e empreendedor, padre Luna adquiriu imagens, cinco lâmpada a álcool, além de ter reformado a calçada em frente da Matriz e da casa paroquial. Em Salobro, município de Pesqueira, construiu os alicerces da capela da povoação, encarregando-se do serviço Augusto Rodrigues de Freitas e mais tarde Zacarias Soares, tendo contado com o “auxílio das famílias Soares, Freitas e Almeida”. Para esse empreendimento, fez questão de declinar “os nomes dos senhores: José Rodrigues de Freitas, Manoel Rodrigues de Freitas, Joaquim Honorato, João de Almeida, Presciliano e Terto Soares, Elias Costa e Job Costa”.
Padre Francisco de Luna Sobrinho construiu a capelinha de Olho d´Água dos Pombos, sendo benemérito Antônio Vitalino dos Santos. Durante o seu paroquiato foram erigidas as capelas do Espírito Santo, por Miguel Pacheco e a de Bela Vista, no lugar Serra Preta. Em ambos os casos, os pequenos templos foram construídos em terrenos dos respectivos proprietários.
No próximo ensaio concluiremos o paroquiato do padre Francisco de Luna Sobrinho, enfatizando a visita pastoral do primeiro bispo de Garanhuns a São Bento quando nossa paróquia deixou de pertencer à Arquidiocese de Olinda e Recife.
A citação de pessoas nestes nossos ensaios tem por objetivo primacial divulgar esses antigos são-bentenses e, assim, facilitar as pessoas que procuram seus antepassados com vistas a construir árvores genealógicas tão em moda hoje com as ferramentas que a Rede Mundial de Computadores nos põe à disposição.
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