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Coluna 202: Enaltecendo São Bento e a Festa dos Santos Reis

Publicada dia 16 de Janeiro de 2012

Enaltecendo São Bento e a Festa dos Santos Reis

Em primeiro lugar, pode-se, seguramente, do ponto de vista sentimental, destacar a Festa de Reis como um dos momentos de maior confraternização entre os que tiveram a ventura de ter nascido neste bendito torrão ou entre os que, mesmo não tendo nascido na Terra do Bom Jesus, a adotaram e aqui têm dado sua parcela de contribuição, pois São Bento do Una é um lugar mágico e acolhedor. Esta magia se deve ao espírito festeiro e acolhedor do seu povo, coisa, aliás, não muito comum nos dias de hoje onde o individualismo e o egoísmo prevalecem.

A Festa de Reis, também, é uma excelente oportunidade para os são-bentenses que foram buscar, em outras plagas, as oportunidades de trabalho e de estudo que não encontraram no berço natal, matar a saudade, revendo a família e abraçando os amigos de infância. Dá gosto ver que, apesar das dificuldades, a cidade cresceu de forma razoavelmente organizada nestes últimos cinquenta anos. O filho ausente, por outro lado, sentirá os efeitos da descaracterização do nosso casario. Verá que novos edifícios estão sendo erigidos e as casas que serviram de abrigo aos nossos antepassados estão sendo substituídas por prédios onde nem sempre o bom gosto arquitetônico se faz presente. Nós torcemos para que a expansão urbana se dê sem que, para tanto, as antigas moradias sejam destruídas e substituídas por edificações sem a menor beleza estética. É neste momento que lembramos, comovidos, o trabalho dos nossos mestres de obras do passado, entre eles Liberato Siqueira, que não conheci, bem como Preci, João Coquinho, Josué Severino e outros que deram o melhor de si para enfeitar os frontispícios e platibandas das residências não só das pessoas simples como, também, das remediadas.

Não podemos esquecer que na Festa de Reis e nos dias que a precedem os nossos hotéis e pousadas recebem não só são-bentenses ausentes como também visitantes que vêm apreciar os nossos festejos e compartilhar de nossa alegria. E no retorno as malas levam as famosas bolachas fabricadas pela centenária Padaria Sertaneja ou os excelentes produtos da Batité muito bem apreciados pela excelência de sua qualidade e que em nada ficam a dever em comparação a produtos similares fabricados em outros lugares do Nordeste ou quiçá do Brasil. O comércio são-bentense, de modo geral, tem bom movimento, fato que resulta em maior arrecadação de tributos. A paróquia do Bom Jesus, por sua vez, como promotora da festa religiosa, tem a oportunidade de arrecadar recursos extraordinários derivados do tradicional leilão de gado bovino e de gado miúdo e que se destinam à conservação dos templos e obras assistenciais.

A mais do que sesquicentenária Festa dos Santos Reis a cada ano se revigora com as atrações que são o encanto das crianças como os sofisticados brinquedos e diversões armados nas principais ruas da cidade. É algo muito bom porque sabemos que esses momentos marcam de maneira indelével as nossas crianças e elas não olvidarão jamais esses momentos de alegria e de diversão nas semanas que antecedem o magno dia que é o Seis de Janeiro. Pertencendo a uma geração bem antiga, posso dizer de viva voz que as Festas de Reis da atualidade são mais bonitas e cheias de atrações, principalmente para as crianças. No nosso tempo, contentávamo-nos em apreciar comidinhas típicas da terra como beiras-secas, nego-bom, mata-fomes, castanha de caju, amendoim torrado e aqueles bolinhos de goma que eram vendidos nas barraquinhas ou em apreciar e até comer coisas para nós exóticas como maçãs europeias, peras norte-americanas, carambolas nacionais e uva na forma de passas que eram oferecidas em tabuleiros ao lado da prefeitura. Havia, igualmente, uma beberagem muito apreciada pela meninada: a gengibirra preparada com acentuado esmero pela saudosa Luísa Bispo muito antes de ela se tornar dona de barquinhas de brinquedo. O sorvete de raspa de Antônio de Senhorinha estava sempre presente nos mais variados sabores como coco, maracujá, morango. Na parte do entretenimento, a criançada se contentava com inocentes brinquedos como as barcas, a pequena roda-gigante e os carrosséis acionados pela força humana, um dos quais era animado pelo som do fole de sete baixos de Odilon da Baixa onde a principal música e talvez a única que executava era o “Pavão de Zé de Sena”, título este dado jocosamente por ninguém menos que o nosso pároco, padre João Rodrigues de Melo. Para brincar montados nos cavalinhos do carrossel, a meninada tinha que enfrentar o cheiro nauseabundo, para alguns, do carbureto já que os geradores de eletricidade de nossa cidade não tinham força suficiente para expandir suas atividades, não alcançando, assim, as barracas mais humildes e os brinquedos infantis. Nas barracas de prendas, a de maior destaque era a de Doutorzinho Vasconcelos que levava vantagem por dispor do serviço de alto-falantes para atrair a freguesia. Mas, também, havia interessantes barracas animadas pelos filhos do escrivão José Raimundo.

Por outro lado, a Festa de Reis era um dia muito especial no qual as famílias são-bentenses se confraternizavam e usavam suas melhores louças, faqueiros e toalhas para a ceia quase sempre regada a um bom vinho onde se servia o famoso bacalhau que vinha de Portugal em pequenas barricas ou mesmo peru. Era o dia em que as famílias mais abastadas degustavam bolo de farinha de trigo e no café a ser servido um produto muito especial para adoçá-lo: o açúcar refinado.

A meninada no Dia de Reis era acordada com as saudosas notas musicais da “Santa Cecília” sob a regência do mestre Josué Severino e ainda sonolenta ia para as janelas e frente das casas para ver a banda passar. Era a chamada alvorada festiva que fazia nossos corações infantis bater com mais intensidade. A banda desfilava com todo o garbo pelas principais ruas da cidade, impecavelmente uniformizada de branco. E a cidade despertava para mais um Dia de Reis que ficaria para sempre gravado nos nossos corações infantis.

São Bento sempre teve certo pioneirismo. Estudando fatos históricos, constatamos que nos fins do século 19 a então vila possuía três batalhões da Guarda Nacional, responsáveis pela ordem vigente. Já tivemos a honra de sediar o Tiro de Guerra 66 que formou reservistas do nosso Exército na década de 30 do século 20. Já tivemos um grupo de escoteiros formado na esteira dos ideais preconizados por Baden Powell para ajudar na formação moral e cívica dos nossos jovens. Também, para nós, foi motivo de orgulho a inauguração do campo de pouso da Fazenda Agra, graças ao empenho de Valdemar Agra, no domingo 28 de dezembro de 1947. Naquele tempo, as estradas eram de terra e, para se chegar à capital, a viagem durava de quatro a cinco horas em estrada esburacada e de terra. A inauguração do campo de pouso na Fazenda Agra reduziu esta distância para, apenas, uma hora e pouco de viagem, embora fosse certo que poucos poderiam fazer esta viagem por falta de recurso ou pelo fato de os teco-tecos não levarem mais do que dois passageiros além do piloto. Mas, outro fato se acrescenta por conta do pioneirismo de nossa cidade no campo da comunicação quando inaugurou o serviço de alto-falantes que veio proporcionar ao nosso povo a oportunidade de por anos a fio escutar os mesmos sucessos musicais. A radiofonia são-bentense teve início com o S.A.U – Serviço de Alto-Falantes do União Sport Club, onde pontificava a voz de Adauto Paiva e depois com o S.A.S - Serviço de Alto-Falantes A Voz de São Bento do Una onde o locutor principal era Doutorzinho de Vasconcelos. A inauguração desses serviços trouxe muita alegria ao nosso povo que podia escutar os sucessos de Luiz Gonzaga, Orlando Silva, Nelson Gonçalves, Ângela Maria, Carlos Galhardo, Augusto Calheiros, Vicente Celestino e as marchinhas e frevos do carnaval pernambucano, bem como escutar as crônicas de Dirceu Oliveira, João da Costa Pereira, Nô Paiva e Sebastião Cintra dentre outros. Na arte dramática, destacava-se o grupo teatral formado por Getúlio Valença com suas apresentações no antigo Cineteatro Rex. Não podemos terminar estas recordações sem uma palavra de carinho e afeto pelo União Sport Club, agremiação fundada em agosto de 1937, e que, durante décadas, congregou a sociedade são-bentense, com bailes sempre abrilhantados pelos melhores músicos de nossa sesquicentenária banda.

Por derradeiro, não resta dúvida de que a Festa de Reis é muito importante para a cidade de São Bento do Una porque tem tradição, beleza e diversão que pode muito bem atrair pessoas não só de Pernambuco, mas de boa parte do Nordeste, podendo, em futuro próximo, fazer parte do calendário turístico do interior de Pernambuco e com isso trazer novas oportunidades de negócios e emprego para a nossa gente.

Pau Amarelo-PE, 16 de janeiro de 2012

Orlando Calado é bacharel em direito.

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