Portal São Bento do Una - Orlando Calado - Tributo ao prefeito Manoel Cândido, de São Bento

Colunas

Cidade

Regional

Navegando: Indisponível

Coluna 233: Tributo ao prefeito Manoel Cândido, de São Bento

Publicada dia 05 de Junho de 2016

Tributo ao prefeito Manoel Cândido, de São Bento

MANOEL CÂNDIDO CARNEIRO DA SILVA, UM ADMINISTRADOR MUNICIPAL DE RESPEITO

Um homem que ficou famoso porque deu nova fisionomia ao centro de São Bento e que foi admirado por todos os munícipes que tiveram a felicidade de viver em São Bento na época em que ele governou o município.

Um homem que exigia ruas limpas e ai de quem jogasse papel ou mesmo casca de frutos nas calçadas ou no leito da rua. Levava um tremendo "gato" como me disse, de certa feita, o inesquecível escritor Gilvan Lemos que, ainda menino,teve a oportunidade viver aqueles momentos de transformação da cidade.

Botou ordem nas feiras livres sabáticas e os feirantes foram obrigados a recolher o lixo do fim de feira para certo local com vistas a facilitar a tarefa do solitário lixeiro municipal.

Um homem que, no frio cortante da noite são-bentense, saía de capote pelo pequeno centro urbano para verificar se tudo estava em ordem e assim poder dormir sossegado o sono dos justos e dos cumpridores dos seus deveres.

Um homem que inspecionava a cidade da qual era responsável de bloquinho de notas e lápis na mão a fim de anotar possíveis irregularidades e para, no outro dia, mandar providenciar os reparos e providências que se fizessem necessários.

O homem que derribou o malcheiroso Mercado Público, inaugurado em 1887, e que era motivo de gozação por parte dos visitantes, uma vez que, aos sábados, cavalos e jumentos eram amarrados no entorno do prédio, de acentuado mau gosto arquitetônico, dando uma impressão de estribaria. Essa providência de Manoel Cândido encontrou grande resistência nos setores conservadores da cidade que fizeram um abaixo-assinados ao interventor Agamenon Magalhães com vistas a impedir a consecução da demolição. Cândido foi mais rápido. Ele comandou pessoalmente os trabalhadores braçais de modo que se preservasse ao máximo as telhas, tijolos e outros materiais susceptíveis de, mais tarde, serem reutilizados.

O homem que construíu uma moderna prefeitura em estilo arquitetônico "art déco" e que infelizmente viria abaixo na administração do prefeito Lêucio Mota (1989-1992) quando, ainda, não se tinha plena consciência de que devemos respeitar e preservar a nossa paupérrima arquitetura.

O homem que mandou passar meio-fio e incentivou os proprietários de casas a fazer suas calçadas para tornar a cidade mais atraente. Pena que ficou tão pouco tempo à frente de nossa Municipalidade (pouco mais de um ano e nove meses) apesar dos parcos recursos de que o Erário municipal dispunha.

Quando tinha que se entrevistar com o interventor federal, Agamenon Magalhães, no Recife, pegava bigu em caminhões, algumas vezes na carroceria, até Belo Jardim onde apanhava o trem para a Capital. Ia ao Recife e voltava a São Bento às suas expensas sem sacar diárias de transporte, alimentação e hospedagem a que tinha direito.

Em 1940, sabedor do falecimento do comerciante são-bentense, Eutrópio Guilherme de Azevedo, casado com Leonor, filha de Rodolfo Monteiro de Paiva, e de que Eutrópio não ficara rico porque ajudava as pessoas de menos recursos e que era tomado como padrinho de quase a metade da cidade de São Bento, mandou abrir um letreiro com o nome inteiro de Eutrópio na entrada das Escolas Reunidas Governador Alexandre José Barbosa Lima (conhecidas como Grupo Velho) como um preito de gratidão a esse benemérito e venerável homem.

Em 1940, recepcionou o Dr. Agamenon Magalhães quando este lhe prometera providenciar uma Estação de Monta para São Bento, hoje conhecida como IPA, no caminho que nos leva a Capoeiras, a fim de aprimorar o nosso rebanho com matrizes da raça holandesa e ensinar os nossos criadores as técnicas de silo.

Por estas e outras razões é que o município e a cidade de São Bento, hoje São Bento do Una, não podem olvidar a memória dessa grande, mercante e impoluta figura de homem público que foi Manoel Cândido Carneiro da Silva.

...
VALORES DO PASSADO
Ad perpetuam rei memoriam

O Dr. Manoel Cândido Carneiro da Silva, bacharel em direito pela Faculdade do Recife, exerceu com raro brilho as funções de promotor público em diversas comarcas pernambucanas, procurando, acima de tudo, fazer justiça, sendo por isso mesmo muito admirado.

Nasceu na cidade de Paudalho PE em 29 de maio de 1884 e morreu ainda jovem em 27 de agosto de 1945 aos 61 anos. Era o filho mais velho de uma numerosa família de quatorze irmãos - nove homens e cinco mulheres. Formou-se em Direito por vocação e tornou-se sertanista por devoção. Hospitalizado, devido a graves problemas no coração, passou vários meses lutando bravamente pela vida no Hospital Centenário do Recife.

Segundo sua filha, Manoel Cândido era um homem muito justo, honrado e humano, mas austero e de poucos afagos. Era também um visionário, com ideias e ideais para além do seu tempo. Escreveu um livro sobre o cangaço reinante na época em que o coronelimo fazia as leis dos sertões do Nordeste.

Por ato do interventor federal em Pernambuco, Agamenon Sérgio de Godói Magalhães, foi nomeado prefeito municipal de São Bento, em substituição a Adalberto de Oliveira Paiva, cargo que exerceu com correção, eficiência e zelo pela coisa pública de 1939 a 1941. Devemos a Manoel Cândido o início da modernização da cidade de São Bento, com a demolição do antigo mercado píblico, a colocação de meio-fio, padronização das calçadas e a construção do prédio da prefeitura, infelizmente demolido sem que ninguém se alevantasse contra tal ignomínia, principalmente em nossa cidade de arquitetura pobre.

Antes de assumir a prefeitura de São Bento, Cândido foi promotor em Bom Conselho. Ao sair de nossa cidade, ele foi nomeado prefeito de Limoeiro, depois esteve à frente da promotoria de outras comarcas, tendo se aposentado em 1945 em razão de problemas do coração.

Vai-se o Homem, fica a sua Obra.

Pau Amarelo PE 05 de junho de 2016

Orlando Calado é bacharel em direito.

Colunas anteriores: