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Coluna 237: São Bento, vida política e administrativa em 1930

Publicada dia 24 de Novembro de 2016

São Bento, vida política e administrativa em 1930

O tumultuado ano de 1930.
O município de São Bento compreendia, além do 1º distrito-sede, as vilas de Cachoeirinha (2° distrito), de Capoeiras (3º distrito) e de Retiro, hoje Cabanas (4° distrito).

Em pesquisa feita na hemeroteca digital da Biblioteca Nacional, encontrei estas preciosidades. São dados de natureza eclesiástica, escolar, política, econômica e administrativa do nosso município, onde a atividade agropecuária dominava.

Neste trabalho, vimos a relação dos profissonais liberais, comerciantes, agricultores, criadores e dos homens que dirigiam os nossos destinos: prefeito, subprefeito, Conselho Municipal, juizes de direito e municipal, promotor e dados interessantes como a relação de carpinteiros, barbeiros, pedreiros, pintores, sapateiros, funileiros, serralheiros, oleiros, donos de curtume e de padarias.

A Justiça Federal tinha apenas um juiz da primeira instância na capital do Estado e no nosso município, como nos demais, era representada por suplentes, cidadãos locais, porém desconhecemos o critério utilizado para a nomeação desses auxiliares e se para tanto havia remuneração por parte dos cofres da União.

Lendo a listagem com atenção, é provável que se encontre o nome do seu avô, do seu tio-avô, do seu bisavô. Eu tive o prazer de encontrar o nome do meu pai, Luiz de Almeida Calado, dito Luiz Cadete, como titular do Conselho Municipal e, também, como agricultor e criador, e os nomes dos meus velhos tios, os quais não tive o prazer de com eles conviver em face da idade avançada deles: capitão Jacinto de Almeida Calado e capitão Francisco de Almeida Calado, este conhecido como seu Chiquinho Cadete, um dos fundadores do Syndicato Pastoril de são Bento em 1911. Como em 1930, houve um golpe de estado que derrubou a chamada República Velha é provável que todos os conselheiros (vereadores) tenham sido destituídos com a nova ordem implantada com a subida de Getúlio Vargas ao poder máximo da República.

Na seção dedicada à extinta Guarda Nacional, depois transformada em segunda linha do Exército Brasileiro, vemos o nome de Adalberto Paiva que era tenente-coronel da antiga Guarda Nacional e como tal chefe da guarnição local, além de chefe do alistamento militar. O irmão dele, Virgílio Paiva, mais conhecido como Nô, era também capitão e Liberato Augusto de Siqueira, tenente.

Nos fins do século 19, nossa cidade chegou a sediar três Batalhões de Infantaria da Guarda Nacional e os oficiais que apareciam relacionados no Almanak Mercantil eram os remanescentes dessas unidades.

As costureiras de nossa cidade eram designadas como "modistas", mulheres habilidosas que sabiam cortar, alinhavar, clulear, casear e costurar com certa maestria aquelas peças antigas da indumentária feminina. A professora Ester Siqueira, assim como a irmã Emília, filhas de Liberato, eram modistas ao lado de outras.Liberato Siqueira desempenhou várias funções como músico-compositor, agricultor, pedreiro, oficial do registro civil e secretário da Prefeitura e do Conselho Municipal.

Como sapateiros aparecem as figuras de Balbino Mendes de Cerqueira e Laurindo Pereira da Costa. Balbino também era saxofonista da Banda de Santa Cecília. Balbino também exercia a função de barbeiro e foi pai do poeta são-bentense José Maria de Cerqueira, autor do livro "Retirantes do Limbo", publicado em 1959.

É interessante saber quem eram os capitalistas, homens que, à falta de uma casa bancária ou cooperativa de crédito, faziam as vezes de banco, emprestando a juros módicos a quem precisasse de dinheiro, dando algum bem como garantia real do empréstimo.

Na relação de pintores, encontramos o nome de Marcelino José de Melo, pai de Babá, ambos violonistas, sendo que o pai também fez parte, anos mais tarde do Jazz Batuta de São Bento como crooner, utilizando o porta-voz, instrumento feito de lata para amplificar a voz. É provável que Marcelino tenha sido o primeiro propagandista ao anunciar, pelas ruas do centro da cidade, as miudezas e fazendas da Casa Osvaldo Maciel num tempo em que não havia alto-falantes na cidade.

Dentre os vários capitalistas, destacamos os nomes de João Alves de Siqueira, mais conhecido como João Borrego, Joaquim Manso da Silva Sobrinho, mais conhecido como Quinca Lelê, Alceu Alves Valença e Francisco de Almeida Calado, meu tio, que apesar de possuir muitos bens sua religiosidade o fez desfazer de tudo e morrer em extrema miséria. Segundo me contou o escritor Gilvan Lemos, meu tio Chico Cadete era o proprietário daquele sobrado que fica ao lado da torre da matriz do Bom Jesus e todo o sábado ele, do andar superior, lançava moedas de 100, 200, 400, 500 e de um mil reis para as pessoas pobres que as disputavam. Era algo que aconteceu nas décadas de 30 e de 40 do século 20 e desde cedo as pessoas se postavam na calçada à espera do benfeitor.

A peça em análise trata-se de um documento importante para todos os que querem saber algo mais protagonizado por nossos antepassados. Em 1930, havia dez automóveis na cidade. É provável que alguns eram carros de praça. Seus proprietários: Virgílio de Oliveira Paiva (seu Nô), Alceu Alves Valença, Eneas de Almeida Valença, Eutrópio Guilherme de Azevedo, Getúlio Alves Valença, Barão de Suassuna, Feliciano Correia, Aristides de Carvalho e Silva, Ludugero Simões de Morais e José de Almeida Calado, este mais tarde adotaria o apelido Cadete.

Em 1930, o prefeito municipal era Euclides da Mota Valença, o subprefeito Pedro Soares da Rocha, o secretário Aníbal da Silva Lemos e o tesoureiro interino Balbino Guilherme de Azevedo. O poder legislativo era exercido pelo Conselho Municipal composto dos seguintes conselheiros (que correspondiam aos atuais vereadores): Pedro Celestino dos Santos Júnior (presidente), Manoel Inocêncio de Carvalho Cavalcanti (vice-presidente), José de Almeida Calado (1° secretário), Luiz Gonzaga de Souza (2° secretário) e conselheiros: Olavo de Souza Costa, Tomás Elias de Melo, Luiz de Almeida Calado (meu pai), José Belarmino Teixeira, e Cirilo Veloso da Silva, todos eleitos pelo voto popular.

É isso aí, gente. Continuaremos nossas pesquisas apenas pelo prazer e pela vontade incoercível de saber mais um pouco sobre nosso passado e compartilhar com todos.
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Os assuntos acima tratados tiveram como subsídio o
"Almanak Administrativo Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro", através do site da Biblioteca Nacional sediada no Rio de Janeiro.

Pau Amarelo PE 24 de novembro de 2016

Orlando Calado é bacharel em direito.

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