Coluna 241: Sem memória não há História |
Publicada dia 22 de Janeiro de 2017 |
É com desprazer que consigno: nossa memória municipal é precária sobre todos os aspectos e ângulos que se possa imaginar. Somos uma cidade sem memória e por via de consequência sem História.
Cultura para muitos é apenas música, "causos", piadas e algumas manifestações de natureza folclórica. Poucos se interessam pelas nossas coisas e nós, que não vivemos o dia a dia da cidade, é que alimentamos com notícias antigas o que os nossos antepassados foram capazes de construir, de realizar.
Não obstante essa desmemória generalizada, de há muito que digo e repito que nossa gente sempre esteve à frente das novidades do seu tempo. A prova mais evidente disso é que tivemos grêmios literários, hipódromo com arquibancada, jornal impresso na própria cidade e não em outras cidades como se vê em algumas publicações locais.
Tivemos três batalhões da Guarda Nacional. Tivemos sindicato pastoril com propostas inovadoras no campo da pecuária. Tivemos cooperativa de produtores agropecuários. Tivemos bem treinadas equipes femininas de vôlei que se enfrentavam na quadra de terra do grupo velho.
Tivemos grupo de escoteiros obedecendo os preceitos preconizados por Baden Powel no formação de jovens solidários e dedicados a ajudar o semelhante. Dentro do espírito do programa "Asas para o Brasil", tivemos um campo de aviação na Fazenda Agra. Tivemos tiro de guerra para formação de reservista do Exército. Tivemos luz elétrica e cinema mudo em 1925. Tivemos um chafariz de bela cúpula, no largo da Matriz, que foi demolido desnecessariamente e tantas outras coisas como grupos de teatro tanto laico como ligado à Paróquia. Tivemos um moderno cinema de 400 lugares criminosamente demolido e que poderia servir de auditório para apresentações teatrais, musicais e solenidades de formatura.
E felizmente, por um aborto da natureza, temos uma Banda Musical, de 1854, cujos integrantes resistiram a tudo: secas, cólera-morbus, migração de músicos, sobrevivendo a duras penas graças a um pugilo de homens simples e trabalhadores que à noite se dedicava a estudar, compor e ensaiar as peças musicais que sempre encantou nossa gente e em especial a meninada.
Necessário se torna que apareçam pessoas interessadas em desvendar nosso rico passado de luta pela sobrevivência, visitando os arquivos públicos e particulares dos cartórios, paróquia, diocese, serviços eleitorais, prefeitura, câmara de vereadores.
Necessário que essas pessoas tenham uma contraprestação financeira para enfrentar a poeira dos arquivos mal conservados antes que tudo vire pó, como a coleção da "Gazeta de S. Bento" no Arquivo Público de Pernambuco.
Resumo da ópera: sem memória não há História ou povo sem memória é povo sem História.