Coluna 244: Historia Municipal - A morte do mesário eleitoral
Publicada dia 14 de Abril de 2017
Historia Municipal - A morte do mesário eleitoral
O fato se deu em nossa não tão pacata, como se pensava, vila de S. Bento no dia 08 de janeiro de 1885.
A disputa eleitoral era tão acirrada e não muito civilizada, entre conservadores e liberais, que o chefe de polícia da Província de Pernambuco, Manoel Ventura de Barros Pimentel, tomando conhecimento das brigas entre as facções partidárias, teve que fazer cansativa viagem usando o trem da Ferrovia do Sul de Pernambuco, até a última estação recém-construída, Quipapá, e depois seguindo a cavalo, tendo chegado á vila de S. Bento no dia da eleição, cansado e exaurido pela viagem, para assistir o desenrolar da votação e dar a segurança necessária ao eleitor no cumprimento do dever do livre voto.
A cidade estava praticamente ocupada por jagunços e pessoas que tinham por finalidade aterrorizar o eleitor com vistas a votar no partido situacionista.
O pleito transcorreu sob intenso nervosismo entre as facções disputantes do voto quando, já no fim dos trabalhos de captação dos votos, o escrivão José Aantônio da Silva Lemos entra no recinto e tenta se apoderar da urna, sendo rechaçado pelo mesário Júlio Valença, auxiliado pelo presidente da mesa eleitoral.
Conta o chefe de polícia em relatório ao presidente da província de Pernambuco, Sancho de Barros Pimentel, que a urna foi empurrada pelo escrivão Silva Lemos, ao tempo em que o subdelegado Francisco Valença apanha a urna e a joga novamente no chão arrebentando-a e espalhando, pelo chão, as cédulas nela contidas.
Havia pessoas exaltadas pela indignação entre as quais o mesário Júlio Valença. O chefe de polícia de Pernambuco interveio, recomendando às pessoas moderação e civilidade e quando tudo parecia serenado cai morto o mesário Júlio Valença, vítima de uma "apoplexia fulminante".
O chefe de polícia, ato contínuo, instaurou inquérito, fazendo corpo de delito em Benício Ferreira Calado que recebera pequeno ferimento nas costas e o exame no cadáver de Júlio Valença.
O resultado de tão criminoso quanto audaz atentado foi não ter havido eleição no colégio de S. Bento.
Testemunhas disseram que o mesário Júlio Valença havia lutado contra o subdelegado Francisco Clemente de Oliveira Valença para acalmar e desarmar este que estava com uma faca na mão.
O fato repercutiu negativamente na Assembleia Legislativa Provincial quando o deputado Gaspar Drummond condenou o episódio da urna na eleição de S. Bento e que levou a morte o mesário Júlio Valença, vítima de um mal súbito, provavelmente ocasionado pelo esforço em conter os invasores da sessão eleitoral.
Um fato deprimente que fez uma eleição ser anulada.
(Fonte: Diário de Pernambuco, edições de 13.01.1885 e 17.07.1885).