Portal São Bento do Una - Orlando Calado - As Vestais da Moralidade Pública

Colunas

Cidade

Regional

Navegando: Indisponível

Coluna 4: As Vestais da Moralidade Pública

Publicada dia 22 de Setembro de 2005

As Vestais da Moralidade Pública

Fazer fogo nem sempre era fácil na antiguidade e por isso, a manutenção da chama, principal elemento do culto a Vesta, revestia-se de grande importância. O fogo perpétuo em honra á deusa era mantido em todas as casas romanas, juntamente com imagens de lares e penates, deuses domésticos.

Vesta, a deusa romana do lar, identificada com a grega Héstia, era representada inteiramente vestida, às vezes acompanhada de um asno. Seu culto era o mais antigo da religião romana e o que mais resistiu à influência cristã.

As vestais eram sacerdotisas que presidiam a Vestália, festival anual, realizado em junho, época considerada aziaga. No último dia fazia-se a limpeza ritual do santuário e os maus augúrios só terminavam quando todo lixo era depositado em local especial ou lançado ao rio Tibre.

As candidatas a sacerdotisas de Vesta deviam ser filhas de pais livres e respeitáveis e não ter defeito físico ou mental. Eram em número de seis. Iniciavam-se entre os seis e dez anos. E permaneciam por trinta anos a serviço da deusa, durante os quais deviam conservar-se virgens.

Além de zelar pelo fogo, deviam preparar os alimentos sagrados e cuidar da limpeza e dos objetos do santuário. Se faltassem às obrigações eram castigadas fisicamente e, caso violassem o voto de castidade, eram enterradas vivas. Usufruíam grande prestígio e imensos privilégios, o que incluía a emancipação da casa paterna. Podiam se casar ao fim de trinta anos de serviço, o que raramente ocorria, pois o casamento com uma vestal era considerado má sorte.

O santuário de Vesta situava-se no Fórum, perto da Regia, antigo palácio dos reis romanos. Construído segundo planta circular, lembrava as primitivas cabanas italianas. Somente as vestais tinham livre acesso a seu núcleo mas, uma vez por ano, na Vestália, as mulheres casadas podiam visitá-lo. Na época de Augusto construiu-se diante do templo o Atrium Vestal, espécie de vestíbulo de recepção.

As Vestais da Moralidade Pública

Este assunto me vem à tona depois de assistir a enfadonhas sessões da CPI dos Correios, nas quais alguns inquisidores se dirigem aos pobres investigados como verdadeiras vestais. Para estas vestais do templo da moralidade pública, os que ali se sentam já estão a priori devidamente condenados. Esquecem os princípios constitucionais entre os quais o da presunção de inocência até que sentença judicial se pronuncie pela culpa do réu. Então nas sessões das comissões de inquérito se vê todo tipo de perguntas que se fazem aos depoentes. Pérolas como: "O senhor acredita em Deus?". Aí José Simão fica irado e afirma: E daí? O cara pode ser ateu e honesto. Outra pergunta que nada tem que ver com as investigações: "O senhor acha o Zé Dirceu arrogante? O mesmo Simão responde na bucha: E daí. O cara pode ser arrogante e honesto. Um outro inquisidor indagou: "Qual o modess operandi?" Aí Simão não agüentou e respondeu com uma indagação: "É CPI genecológica?"Uma deputada chamada Cobra, apesar de ser uma advogada criminalista, não tem a mínima técnica para fazer perguntas. Quer a todo custo "botar" palavras na boca do respondente. Aí Simão, com a argúcia de sempre, pergunta: Zulaiê Cobra é tucana ou arara? Grita mais que gralha em tempo de postura. Um deputado perguntou a Jacinto Lamas: "O senhor enrolava o dinheiro com elástico ou com fita adesiva?" E outro: "O senhor leu a matéria da Veja?" Resposta: "Não, eu não assino a revista." Até hoje não tenho inteligência suficiente para alcançar o sentido das perguntas feitas pelas "excelências" do parlamento brasileiro. Espero que eles com perguntas imbecis como estas possam chegar à alguma conclusão sobre as fraudes verificadas no setor público. Até hoje muitos do PFL e PSDB estão atrás dos financiadores. Não acreditam nos empréstimos de Marcos Valério. O BMG já entrou com uma ação de cobrança para compelir o PT a lhe pagar os milhões dos empréstimos. O furto de 164 milhões de reais do Banco Central do Ceará não é considerado pelas "excelências", talvez pelo fato de não ter conotação política. O furto cearense foi três vezes maior do que os empréstimos ao PT para pagar dívidas das campanhas de 2002 e 2004. Outra pergunta inteligente digna do pior Congresso já eleito na história republicana: "O senhor na viagem sentou-se ao lado do Marcos Valério?" Outra pérola: O senhor é amigo do Marcos Valério"? E a mais recente:"Qual o motivo de o senhor ser chamado de Nescau?" Dessa maneira não chegaremos a lugar algum com essas perguntinhas sem nexo aparente. Não consigo alcançá-las. Minha inteligência é curta demais. Talvez seja apenas embromação das "excelências" diante do longo tempo para se fazer considerações e perguntas pouco lógicas, diante das câmeras das TVs legislativas de Brasília.

Agora esse pessoal da CPI é atração em programas televisivos do quilate de Gilberto Barros. Lá apareceram Denise Frossard vestindo Armani. Ela ainda não perdeu o cacoete autoritário de alguns juízes. Passa pito nos colegas da comissão de inquérito. Grita que a pizza está fedendo. Segundo Simão, Denise é a coruja do Harry Potter. Heloísa Helena com seu "look" casual-esculacho reclama mais que cabrita desmamada. ACM Neto com o terno do namorado da Barbie. Como ele é moreninho queimado pelo sol de Itapuã, também parece muito com o boneco Falcon. Simão é um grande observador da cena nacional. Acha Eduardo Paes com a cara de Balas Juquinha. Disse que eles dão banho de interpretação em qualquer ator da TV Globo. E completa que tudo deve ter sido ensaiado no espelho.

Eduardo Azeredo, presidente nacional do PSDB, disse que não sabia das doações do Marcos Valério. Este camarada Valério sempre investiu em campanhas para depois tirar proveito com seus contratos. Nesse caso, ele errou de alvo porque deu Itamar Franco que ao assumir decretou moratória e ele ficou a ver navio porque não recuperou o "investimento".

Um senador por Pernambuco, antigo anão do orçamento, e uma vestal chamada José Carlos Aleluia do impoluto PFL, foram salvos na CPI do Orçamento por um acordo de partidos. Só Genebaldo, João Alves e outros pilantras foram sacrificados. O pobre do Ibsen Pinheiro foi execrado e teve que renunciar, diante do ataque maciço da imprensa. Ele era um potencial candidato à presidência da República. Mais tarde, provou-se que Ibsen era inocente. Apenas não quis revelar a fonte que depositava dinheiro honesto na conta dele. E nada neste mundo fará com que a imagem de Ibsen seja recuperada integralmente. Vemos também nas CPIs figuras como o deputado ACM Neto, Eduardo Paes, Ônix Lorenzoni querendo de todo modo emporcalhar a situação. ACM e seus paus mandados, como César Borges e o próprio neto, não são exemplos de moralidade. Abram as contas das eleições da Bahia e encontrarão a podridão exalada pelo PFL.

Temos também um senador chamado Álvaro Dias, que juntamente com o deputado Gustavo Fruet, aquele que parece personagem de desenho animado porque só mexe os lábios, estão fazendo de tudo para se mostrarem. Requião dê mais uma porrada nestes tucanos. Álvaro Dias deve enfrentar Requião e essa exposição toda é para impressionar o eleitorado paranaense.

Outra vestal do templo da moralidade nacional é Arthur Virgílio, famoso por fazer a deputada Maria do Rosário, relatora da CPI da exploração sexual de menores, chorar copiosamente quando conseguir retirar o nome do atual vice-governador do Amazonas, um tal de Omar Aziz, acusado de pedofilia no relatório final.

Agora temos um promotor do interior de São Paulo passando informações de um desclassificado a respeito do recebimento mensal por parte da prefeitura de Ribeirão Preto de certo valor mensal. Buratti estava utilizando o uniforme de preso, depondo algemado e num dos intervalos o promotor veio trazer as acusações feitas pelo advogado num furo de reportagem que muito custou à imagem do País. Bolsa de Valores caíu, dólar subiu, risco Brasil subiu. O corporativismo fez com que o procurador-geral de Justiça de São Paulo viesse em defesa do seu pupilo. Lembrar que o governo de São Paulo é do PSDB e o procurador-geral foi nomeado por Alckmin, este mesmo que manda a TV Cultura fazer diversos programas "Roda Viva" para pisar ainda mais seus adversários. Lá só comparecem figurinhas carimbadas que a toda hora dão declarações bombásticas às rádios e jornais televisivos.

Ainda bem que o presidente da OAB/Nacional fez uma representação contra o promotor paulista, no Conselho do Ministério Público, por conduta indevida ao divulgar informações que podem colocar em risco a credibilidade da política econômica do País. E assim vamos nós de CPI em CPI até que enjoemos para sempre.

Paulista - PE, 27 de agosto de 2005

Orlando Calado é bacharel em direito.

Colunas anteriores: