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Coluna 53: Modos de falar diferentes no Brasil e em Portugal (3/4)

Publicada dia 07 de Outubro de 2006

Modos de falar diferentes no Brasil e em Portugal (3/4)

Em prosseguimento, apresentamos esta semana os verbetes de número 92 até o de número 137, sendo que o restante será publicado no próximo sábado, dia 14 de outubro de 2006.

92. História em quadrinhos – Lá em Portugal se diz “banda desenhada”.

93.. Hadoque - Aquele peixe de alta qualidade que em inglês é “haddock”, em Portugal tem um nome esquisito: “eglefim”.
94. Inverossímil – Em Portugal não se sabe por que motivo se grafa “inverosímil”, com apenas um “s”.
95. Imposto de renda – Este terrível imposto que assalta o nosso contracheque todo santo mês, em Portugal é conhecido como “imposto complementar”, complementar a que, cara pálida?
96. ICMS - O Imposto estadual e do Distrito Federal incidente sobre a circulação de mercadorias e (alguns) serviços como de telecomunicações e energia elétrica, em Portugal é IVA (Imposto sobre valor acrescentado) o que em última análise não quer dizer nada. Coisa de português, com sua lógica esquisita. Sou mais o velho ICM do que o IVA, uma tradução do sistema tributário francês que introduziu pela primeira vez o sistema de créditos. IVA quer dizer imposto sobre valor agregado.
97. Jogo de boliche - Esse jogo é conhecido em Portugal como “jogo da bola”.
98. Loteria esportiva - O nome desta loteria em Portugal é “totobola”.
99. Lanche - Na terrinha não se usa a palavra lanche e sim “merenda”. Apesar de no Brasil existir aquela “merenda escolar”, que propicia tantos desvios de recursos, a palavra mais usada fora do ambiente escolar é “lanche”. Merenda parece coisa de antanho.
100. Laquê – Aquele produto para fixar o cabelo das mulheres em Portugal se chama “laca”.
101. Maiô - Esta palavra aportuguesada do francês não é utilizada em Portugal. Lá se diz “fato de banho”. Uma coisa estranha aos nossos ouvidos tropicais.
102. Macacão - Aquela peça de roupa muito usada em oficinas mecânicas organizadas e por operários de grandes empresas, em Portugal se chama “fato macaco”. Estranho, não?
103. Meia-calça – Esta peça do vestuário elegante feminino em Portugal se chama “collants”.
104. “Mensalão” – Este recente neologismo de extremo mau gosto para designar parlamentar que vota matéria de interesse do governo, mediante eventual paga, em Portugal tem o nome de “saco azul”.
105. Marrom – Nós, brasileiros, preferimos um francesismo a uma palavra mais próxima do nosso falar. Neste ponto, acho que os portugueses estão certos em usar “castanho” em vez de marrom.
106. Metrô - O trem metropolitano que preferimos chamar de “metrô” à moda francesa, em Portugal se chama “metro”. Ponto para os portugueses.
107. Meio-fio - Em algumas paragens brasileiras é também conhecido como “guia de calçada”. Em Portugal, para contrariar, meio-fio é “borda de passeio”.
108. Magazine - Aquela loja de departamentos lá em Portugal é conhecida como “grande armazém”.
109. Mobiliar - Este verbo tem grafia diferente em Portugal. Lá se diz “mobilar”.
110. Menina - Esta palavra não é usual nas terras banhadas pelo Tejo, Douro, Minho, Vouga e outros rios de menor porte. Em vez de menina, diz-se “rapariga”, que em grande parte do Brasil tem um significado pejorativo.
111. Madri - O nome da capital da grande nação ibérica tão cheia de museus e terra de pintores famosos, em Portugal, é grafado “Madrid”.
112. Maquilagem - No Brasil adotou-se maquilagem embora muita gente boa ache que o certo seja “maquiagem”. No Brasil rural, o verbo “maquiar” é uma paga. Por exemplo, eu tenho 10kg de milho. Não tenho moinho para fazer o xerém. O vizinho tem. Então, quebro o meu milho no moinho dele. Pago pela utilização do moinho com 1kg de xerém. Essa paga se chama “maquia”, daí o verbo maquiar. Em Portugal, não diga maquilagem e sim “maquilhagem”.
113. Moscou - A capital da Rússia em Portugal é Moscovo.
114.. Marca registrada - Em Portugal diga “marca registada” sem o “r”. O mesmo em relação ao verbo registrar que é escrito “registar”. A propósito, lembro-me de uma antiga coluna do Jornal do Commercio do Recife chamada “Registo”.
115. Marcha à ré - Os automobilistas lusitanos dizem “marcha atrás”.
116. Meia - Aquela peça que se calça para proteger os pés, em Portugal, tem o sugestivo nome de “peúga”.
117. “Mensalão” – Palavra inventada recentemente para designar político que recebe dinheiro não-contabilizado de empresa (caixa 2), uma ou mais vezes, e como é não contabilizado, o receptor, também, não registra o dinheiro em sua contabilidade ou prestação de contas. Em Portugal, este ilícito tem o nome de “saco azul”.
118. Navio de guerra - As belonaves portuguesas são chamadas de “couraçados”.
119. Nevoeiro com fumaça – Em Portugal se diz: “nevoeiro com fumo”. O mesmo se dá em relação à fumaça de cigarro que lá é “fumo de cigarro”. Conclui-se, portanto, que o português usa a palavra “fumo” para designar a fumaça.
120. O que você está fazendo? - Embora Camões em "Lusíadas" tenha usado o gerúndio e abusado dele, o português moderno de Portugal acha frases desse jaez como inadequadas por se tratar de um “brasileirismo”. Diga então: “O que estás a fazer?”.
121. Óleo de freio - Se pedir a um frentista português “óleo de freio”, ele não vai entender. A não ser que o frentista seja natural de Pindorama. Peça então “óleo dos travões”.
122. Ônibus - Sabemos que essa palavra vem do latim “omnibus” e quer dizer “para todos”. Em Portugal, esses veículos de transporte coletivo têm o nome de “autocarro”.
123. Ocupado - No Brasil quando alguém está muito atarefado, dizemos que esse alguém está ocupado. Em Portugal, não diga ocupado e sim “impedido”. O mesmo se dá em relação a uma chamada telefônica que não se completa em virtude daquele toque de “ocupado”. Lá também se diz que o telefone está “impedido”.
124. Obturação - Em Portugal caso precise de um médico-dentista e não sendo ele brasileiro, não peça para fazer uma obturação e sim um “chumbo”. Conclui-se, portanto, que o verbo obturar na terrinha deve ser substituído pelo verbo “chumbar”.
125. Oficial de justiça - O antigo meirinho em Portugal se chama “oficial de diligências”.
126. Pomo-de-Adão - O popular gogó no além-mar se chama “maçã-de-Adão”.
127. Pescador de vara - A expressão que se usa em Portugal é “pescador à linha”.
128. Pesca à vara - Como no caso anterior, diz-se “pesca à linha”.
129. Policial – Em Portugal, o agente da lei e da ordem não é chamado de “policial” e sim de “polícia”.
130. Porta-malas - Aquele espaço na traseira do automóvel que serve para colocar malas ou sacolas de supermercados com compras tem o nome de “porta-bagagem”. Nesse sentido, os portugueses estão mais certos do que nós, haja vista que naquele compartimento se coloca tudo que o freguês quiser, não necessariamente apenas malas.
131. Pão doce - Numa panificadora em Portugal, qualquer que seja o tamanho do pão doce, ele se chama “pãozinho”.
132. Ponto (de parada) de ônibus - Na terra dos nossos avós, não peça ao condutor para parar o ônibus na próxima parada. Peça para parar na próxima “paragem” (de autocarro).
133. Planejamento - Palavra muito usada no Brasil onde há uma secretaria de Estado com essa designação. No entanto, em Portugal se diz “planeamento”.
134. Palavrão - Este termo não é usual em Portugal. Lá se usa “baixo calão”.
135. Pensão barata - Uma modesta pensão em Portugal se diz “pensão de malta”. Malta é uma ilha do mar Mediterrâneo, de onde saíram humildes trabalhadores para os campos agrícolas europeus. Como não tinham recursos, eles se hospedavam em humildes pensões. Daí, “pensão de malta”.
136. Penteadeira - Aquele móvel dotado de espelho que equipa residências em Portugal tem o nome de “toucador”.
137. Perua - A camioneta de um modo geral em Portugal se chama “canadiana”, palavra que tem a ver com o Canadá, aquele grande país da América do Norte que procura se firmar como uma nação que não quer ser confundida como uma extensão dos Estados Unidos. O problema desse belo país é ser vizinho de uma superpotência. Mesmo pertencendo ao G-7, grupo dos países mais ricos do planeta, eles se sentem diminuídos perante o Gigante. É um país a procura de sua identidade nacional.

(continua no próximo sábado)

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Pau Amarelo PE sete de outubro de 2006

Orlando Calado é bacharel em direito.

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